A Central dos Trabalhadores
e Trabalhadoras do Brasil em Minas Gerais (CTB Minas) realizou nos dias 24 e 25
de maio seu 3º Encontro Estadual, no clube do Sesc de Contagem, cidade operária
da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
Recepcionados pelo então
presidente em exercício da CTB Minas, José Antônio de Lacerda, o Jota, a abertura
do Encontro contou com a presença de mais de 200 pessoas, entre delegados
representantes de sindicatos de todo o Estado filiados à Central, observadores
e convidados, dentre eles o presidente nacional da CTB, Wagner Gomes; os
secretários nacionais da Central Vilson Luiz da Silva (Finanças) e Joílson
Antônio Cardoso (Política Sindical e Relações Institucionais); e o presidente
da CTB Bahia, Adilson Araújo.
Também prestigiaram o evento
a deputada federal Jô Moraes e o vereador de Belo Horizonte Doutor Sandro
(PCdoB); a coordenadora do Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do
Trabalhador, Marta de Freitas; além de representantes da União Nacional dos
Estudantes (UNE), Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimento
e Ensino (Fitee), Nova Central, Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura (Contag), entre outras entidades.
O Encontro foi aberto com a
eleição da Mesa Diretora do Encontro e da Comissão Eleitoral. Na sequência,
após a execução do Hino Nacional Brasileiro, houve a exibição de um vídeo sobre
as lutas empreendidas pela CTB Minas na atual gestão.
Em seguida, as autoridades
que compuseram a mesa saudaram a plenária e, logo depois, o então presidente
licenciado da CTB Minas e vereador de Belo Horizonte, Gilson Reis, discorreu
sobre a conjuntura mineira.
“Em Minas Gerais existe um
governo que tenta cooptar o movimento sindical e construir, a partir das bases
sindicais, o seu projeto de ‘governança’, fundamentalmente na luta política de
2014. Nós compreendemos que aqui em Minas Gerais o movimento sindical deverá
exercer todas as suas funções, toda a sua luta e mobilização no sentido de
desmascarar esse governo que, ao longo de dez anos, vem desrespeitando o
movimento sindical, os servidores públicos estaduais, a Educação e a Saúde”,
disse.
Segundo Gilson Reis, cabe os
sindicalistas, na luta política em Minas, criar as condições para fazer a luta
política nacional. “Não é possível que parte do movimento sindical ainda hoje
considere, como alternativa de governo para o nosso País, o senador da
República Aécio Neves. Sabemos que Aécio representa o que existe de mais
atrasado na história de Minas Gerais, o projeto neoliberal, que conseguimos
destruir com a eleição do presidente Lula, em 2002” .
Para o ex-presidente da CTB
Minas, a pauta e a plataforma de Aécio Neves é a da retirada de direitos, das
reformas autoritárias, da luta contra os movimentos social e sindical e da
construção da chamada “governança” a partir do choque de gestão em escala
nacional.
Na sua avaliação, a CTB terá
novos e grandes desafios pela frente, como a luta pelo socialismo, uma batalha
que considera importante, fundamentalmente no período de crise do capitalismo. “A
CTB propõe um sindicalismo classista, unitário, combativo e de luta. Um
sindicalismo do campo e da cidade, que construa a unidade entre os
trabalhadores rurais e urbanos numa nova perspectiva de sociedade, direitos
trabalhistas e de direitos sociais. E é por isso, que depois de cinco anos de
sua fundação, a nossa central se expande cada vez mais. A CTB se afirma como
uma das maiores centrais sindicais do País e é assim, com luta, unidade,
comprometimento e organização que vamos continuar a contribuir na luta dos
trabalhadores e na luta de uma sociedade mais justa e igualitária, a sociedade
socialista”.
Orgulho
A noite de abertura do 3º
Encontro da CTB Minas foi encerrada pelo presidente nacional da CTB, Wagner
Gomes, com uma explanação a respeito da conjuntura nacional. Ele falou que o
Brasil passa por uma grande disputa, na qual deverá decidir sobre qual rumo
tomar. “Os banqueiros, latifundiários e empresários defendem interesses opostos
aos da classe trabalhadora, e isso só vai mudar se os trabalhadores lutarem
para que o governo tome um caminho favorável aos trabalhadores e trabalhadoras”,
disse.
Neste sentido, Wagner Gomes
avalia que a participação das centrais sindicais e dos movimentos sociais
também é fundamental. “Temos uma responsabilidade muito grande de, juntamente
com as pessoas progressistas, fazer com que País tenha um rumo, que é avançar
nas mudanças com valorização do trabalho”.
O presidente nacional da CTB
também ressaltou a importância de se eleger deputados federais e estaduais e
até mesmo um presidente ou presidenta da República ligados aos interesses dos
trabalhadores. “Isso é questão de primeira ordem para o movimento sindical
brasileiro, determinante para continuarmos com o projeto iniciado por Lula há
10 anos”.
Sobre a possibilidade de o
PSDB lançar a candidatura do senador de Minas Aécio Neves à presidente nas
próximas eleições, Wagner Gomes, que o classificou de “filhote piorado de FHC”,
foi taxativo. “Esse moço não aguenta a primeira marretada. Vai ter que sair
candidato porque eles não têm outro”.
Wagner Gomes também falou
com orgulho dos quase seis anos de fundação da CTB, fundado em 14 de dezembro
de 2007, na capital mineira. “Podemos dizer com satisfação que hoje a CTB é uma
das centrais mais respeitadas do Brasil. A CTB não pertence a ninguém, mas aos
trabalhadores de qualquer religião ou partido. É com esse espírito que todo
trabalhador deve se sentir muito à vontade na CTB, uma central que tem como oxigênio
a pluralidade de ideias, o tratamento democrático e a luta intransigente em
defesa dos trabalhadores”.
Em nome da CTB nacional,
Wagner Gomes agradeceu aos sindicalistas de Minas Gerais pela contribuição na
construção da CTB nestes últimos seis anos. “Minas contribuiu muito com as
filiações e também com ideias. Os mineiros não produzem só Aécio Neves, mas
também brasileiros e patriotas que defendem seu País com unhas e dentes,
principalmente das mãos do filhote do Fernando Henrique Cardoso”, concluiu.
Nova direção
O segundo dia do Encontro
teve apresentação do balanço político e financeiro da entidade no último
período e debate sobre a alteração estatutária - dentre as mudanças aprovadas
pela plenária, estão a alteração do nome do Encontro Estadual para Congresso
Estadual e a criação da Diretoria de Igualdade Racial. Também foram definidos
os delegados e delegadas de Minas para o 3º Congresso Nacional da CTB; e eleita
a nova Direção e do Conselho Fiscal da Central no Estado.
A nova diretoria, eleita por
unanimidade, é presidida pelo metalúrgico Marcelino da Rocha, diretor do
Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região e presidente da Federação
Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal).
Em seu primeiro discurso
como presidente da CTB Minas, Marcelino agradeceu aos participantes do
Encontro, que o homenagearam cantando “parabéns a você” pelo seu aniversário,
que ocorreria no dia seguinte. Agradeceu, ainda, aos diretores do Sindicato dos
Metalúrgicos de Betim e Região, entidade na qual, segundo ele, se formou enquanto
cidadão e sindicalista, e ao ex-presidente do Sindicato e advogado Edmundo
Vieira, a quem creditou todo o “crescimento político e ideológico” adquirido em
sua trajetória enquanto trabalhador e militante do movimento sindical.
“Os maiores aprendizados que
tive até o presente momento são a humildade e a sabedoria de ouvir e respeitar
todos aqueles que nos delegam qualquer tarefa de representação política. Nós,
que temos a responsabilidade de dirigir a CTB Minas no próximo período, devemos
fazer valer tudo aquilo que foi construído até o momento. E isso não cabe
apenas a esta direção que acaba de ser eleita, mas a todos os companheiros, da
cidade e do campo, que acreditam que um Brasil novo é possível”.
Desafios
Para Marcelino, a nova
diretoria da CTB Minas terá pela frente o grande desafio de fazer com que, até o
próximo Congresso Estadual, todos tenham orgulho de ter construído as condições
necessárias para que o Estado tome um novo rumo - um Estado complexo, onde
ainda se ouve falar sobre as relações do atraso patrocinado pela elite mineira
monopolista. “Portanto, temos que escrever uma nova página, cujo trabalho se
inicia neste Encontro e continua no ano que vem”.
Sobre a tentativa de o PSDB
de FHC retomar o governo central, o novo presidente da CTB Minas disse
acreditar que “a história do PSDB no Estado está com os dias contados”. “Isso não
depende apenas da CTB, mas de uma aliança de forças para derrotar esta
estratégia dos tucanos mineiros de quererem retomar o governo do Brasil. Mas não
podemos e não vamos permitir isso aconteça”.
Por fim, Marcelino disse que
a nova Direção da CTB Minas deverá enfrentar muitos desafios, mas que se
manterá firme no propósito de colocar a Central onde ela merece estar, que é na
linha de frente dos interesses dos trabalhadores.
Diálogo
Presente durante todo o
Encontro, o presidente da CTB Bahia, Adilson Araújo, disse que a CTB tem a obrigação
de dialogar mais e melhor com seus sindicatos de base, fazendo compreender que a
Central é cada um de seus sindicatos filiados. “Mas não podemos também ter uma
visão utilitarista da Central, achando que os problemas umbilicais do nosso
sindicato vão ser resolvidos pela central sindical. É preciso entender que a
central sindical é um todo e que para existir necessita essencialmente dos
sindicatos. Sem sindicato não tem central sindical. E a central sindical tem
que ter uma política ampla, saber ouvir e enxergar o que a base está pensando”.
Segundo Adilson, são muitas
as bandeiras que estão colocadas e constituir um fórum próprio, unitário, da
CTB, que vai reunir e congregar a UJS, UNE, Contag, Ubes, Unegro, organizações
de luta pela moradia, movimento LGBT, entre outras, é uma necessidade. “Não
podemos enxergar o sindicalismo como uma ilha. Somos parte de um processo. É
necessário que a gente possa também ter uma posição visionária deste processo”.
Para aproximar o sindicato
da realidade dos trabalhadores, o sindicalista baiano defendeu a criação de comitês
de base, a necessidade de se discutir o papel das Comissões Internas de
Prevenção de Acidentes (CIPAs), de os dirigentes sindicais se voltarem mais
para dentro das empresas, de se intensificar o debate sobre a democratização e
se ampliar a luta para garantir a representação dos trabalhadores nas empresas
públicas e privadas.
Socialismo
De acordo com Adilson, a grande
tarefa do movimento sindical é pautar o debate para as reformas estruturantes,
como a reforma do Judiciário. “Não vejo caminhos para alterarmos o quadro
político sem a reforma do Judiciário. O Judiciário não pode ter o poder
supremo. Condenar sem ter direito a defesa. por isso que o movimento sindical
tem que levantar a bandeira da reforma do Judiciário”.
Ele também falou sobre a
necessidade de se democratizar a mídia, que hoje está concentrada nas mãos de
cinco famílias. “A gente faz um Encontro como este, com mais de 200
participantes, e quase nada é publicado sobre o assunto. Para a mídia burguesa,
somos invisíveis. Por isso, temos que lutar para democratização da
comunicação”.
Por fim, Adilson reiterou
que a saída para os trabalhadores é manter acesa e viva a bandeira do
socialismo, que considera ser o ideal maior da classe trabalhadora e do
sindicalismo classista. “Não lutamos por resultado econômico, mas por
transformações sociais. Precisamos e podemos ir além. E isso somente será
possível se tivermos a capacidade de ganhar mentes e corações. Este é o grande
desafio de uma central classista que tem como definição muito clara do seu
papel a luta pelo desenvolvimento com valorização do trabalho”.
Balanço
O vice-presidente da CTB
Minas, José Antônio de Lacerda, o Jota, considerou positivo o balanço da
entidade na gestão que se encerrou com a realização do 3º Encontro Estadual.
“Naturalmente, não é fácil a construção de uma central. Mas também
compreendemos que nosso balanço é positivo, em que pese todas as dificuldades
em aprender em construir uma central. E o desafio de construir uma central
democrática, classista, ampla, plural e de luta foi uma tarefa que conseguimos
conquistar. Muito ainda há que ser feito nesta estrada da construção da CTB,
mas, com certeza, nós já pavimentamos a construção desta estrada e vamos
continuar construindo uma central muito forte, como temos feito”, avaliou.
Para Jota, além de suas
questões organizativas, uma central sindical tem que ter visão política e de
classe. Neste sentido, a CTB tem se envolvido nas questões políticas e
sindicais com bastante vigor e com a compreensão de que é preciso também elevar
o nível de consciência dos trabalhadores para fazer as mudanças que a gente
precisa em nosso País.
O vice-presidente também
ressaltou que a CTB é a única central que tem em seus quadros trabalhadores
urbanos e rurais. “Unir o campo e a cidade em torno de bandeiras unificadas, para
nós, é uma grande vitória”.
Um dos principais legados
que a direção anterior deixa para a atual gestão, na opinião de Jota, são os
núcleos de base, “muito importantes para a formação e futuro da CTB”. Para ele,
são os núcleos de base que vão, de fato, levar a política da Central a outras
bases, para fazer uma disputa sindical com mais precisão.
A unidade existente na CTB
também é uma marca da entidade. “Aqui, não votamos nem disputamos nada. Fazemos
tudo na unidade e no consenso com debate. Por tudo isso, nossa central é
vitoriosa”, expressou. Para Jota, que ocupou a presidência da CTB Minas por
vários meses, o Encontro proporcionou aos participantes bandeiras concretas e
objetivas. “Agora, cabe a cada um de nós participarmos das lutas ativas do
povo. Essa é nossa função”.
Filiações
Durante o Encontro, três sindicatos
ingressaram nas fileiras da CTB Minas: o Sindicato dos Servidores Públicos
Municipais de Itajubá e Micro-região do Alto Sapucaí, Sindicato dos Servidores
Públicos Municipais de Paracatu e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias
da Construção e do Mobiliário de Passos e Região.
Presidente do Sindicato dos
Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Passos e Região,
Joaquim Júlio de Almeida explicou que a diretoria da entidade decidiu se filiar
à CTB porque chegou à conclusão de que “é a única central que realmente está
ligada aos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros”.
Além de Passos, o sindicato
abrange nove cidades do Sudoeste do Estado. “Somos o primeiro sindicato da
Construção Civil e do Mobiliário a se filiar à CTB Minas. Aproveito a
oportunidade para parabenizar a direção pelo Encontro e também à nova diretoria”,
disse Joaquim Almeida.
Em visita ao Encontro, Diogo
Oliveira Santos, do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé,
fez uso da palavra para divulgar e pedir o apoio dos sindicalistas ao projeto
de lei de iniciativa popular para uma mídia democrática.
“Para construirmos um país
mais democrático e desenvolvido precisamos avançar na garantia ao direito à
comunicação para todos e todas. Isso significa ampliar a liberdade de
expressão, para termos mais diversidade e pluralidade na televisão e no rádio. Ainda
que a Constituição Federal proíba os oligopólios e os monopólios dos meios de
comunicação, poucas famílias concentram empresas de jornais, revistas, rádios,
TVs e sites de comunicação no País. Isso é um entrave para garantir a
diversidade”, afirmou.
Participação
O 3º Encontro da CTB Minas
contou com a participação total de 228 pessoas, sendo 169 delegados (65% homens
e 35% mulheres) e 59 observadores (40 homens e 19 mulheres). O número de
trabalhadores urbanos foi de 118, sendo 80 homens (68%) e 38 mulheres (32%). Já
o número de trabalhadores rurais chegou a 51, sendo 29 homens (56%) e 22
mulheres (54%). O total de entidades representadas foi de 66, sendo 35 de
trabalhadores urbanos e 31 de rurais.
Fonte: CTB Minas. Texto e fotos: Eliezer Dias.
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