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3 de mai. de 2013

Em audiência pública na ALMG, especialistas dizem que aumento da produtividade nas fábricas contribui para ocorrência de acidentes


O aumento da produtividade, resultado do ritmo acelerado de trabalho nas fábricas, é o principal fator que contribui para a ocorrência de acidentes de trabalho e doenças profissionais entre os trabalhadores em Minas Gerais.
Esta foi a opinião unânime dos palestrantes que participaram, no último dia 30, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Belo Horizonte, da audiência pública realizada pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Casa, como parte das atividades organizadas pelo Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do Trabalhador pela passagem do Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho (28 de abril.
Com a participação de diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joaquim de Bicas, além de funcionários que trabalham no departamento de Saúde da entidade, a programação foi aberta com o  2º Colóquio de Saúde e Segurança do Trabalhador de Minas Gerais, ocasião em que os participantes debateram sobre o tema “Trabalho e Agravos à Saúde do Trabalhador em Minas Gerais: problemas e perspectivas”.
O ponto alto da programação foi a audiência pública em memória das vítimas de acidentes e doenças do trabalho, cujo requerimento foi de autoria do deputado estadual Celinho do Sinttrocel (PCdoB), evento que também prestou homenagem ao ex-deputado Sérgio Miranda, um dos mais importantes parlamentares brasileiros que lutaram a favor da saúde dos trabalhadores, que faleceu no ano passado.
Jornadas de trabalho excessivas
Um dos palestrantes da audiência pública, o auditor fiscal do Trabalho Mário Parreiras de Faria afirmou que os acidentes de trabalho estão intimamente ligados à intensificação do ritmo de trabalho, que aumenta a produtividade nas fábricas.
Parreiras criticou o excesso de jornadas de trabalho de várias categorias profissionais, com destaque para os operários da construção civil, motoristas de caminhão e operadores de telemarketing, citando que, recentemente, um estudo do Ministério do Trabalho registrou 500 mil jornadas de trabalho acima das 12 horas diárias.
O auditor também lamentou a falta de estrutura de pessoal do Ministério do Trabalho para dar conta da alta demanda de fiscalização, ao lembrar que o número de auditores fiscais do órgão é o mesmo de 1995 e está reduzido a cerca de 3 mil funcionários em todo o estado, em detrimento do aumento do número de empresas e trabalhadores.
“A partir de 2015, 60% dos auditores fiscais irão se aposenta. Por isso, precisamos pensar em outras estratégias. Só a pressão social para se contrapor aos ataques dos empresários”, afirmou.
“CNI quer jogar CLT no lixo”, diz auditor fiscal do trabalho
Mário Parreiras também criticou duramente as propostas pela regulamentação da terceirização e, principalmente, da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), que pretende modificar a legislação trabalhista. Eles (os empresários) querem rasgar e jogar no lixo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)”, afirmou. “O objetivo dos empresários é retirar e flexibilizar uma série de direitos básicos do trabalhador. Para eles, a crise se resolve reduzindo direitos”, acrescentou.
Cerest
Outra debatedora do evento, a coordenadora de Atenção à Saúde do Trabalhador da Secretaria de Estado da Saúde, Janaína Passos de Paula, centrou sua palestra na estrutura e funcionamento dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest).
De acordo com ela, a secretaria encontra dificuldades com dados estatísticos oficiais já que muitos centros de saúde não classificam os acidentes como sendo oriundos do trabalho, e lamentou o número reduzido de Cerest – são apenas 19 em todo o estado.
Trabalho cada vez mais precário
Já Marta de Freitas, coordenadora do Fórum Sindical e Popular de Saúde e
Segurança do Trabalho do Estado, fez severas críticas ao funcionamento dos Cerests, que, segundo ela, “burocratizam e não atendem aos sindicatos”.
Freitas também denunciou a existência de uma epidemia de silicose (doença causada pelo acúmulo de poeira nos pulmões) em trabalhadores de mineradoras e siderúrgicas nas regiões Norte e Sul do estado e afirmou que os casos de Lesões por Esforços Repetitivos (Ler/Dort) não acabaram. “Pelo contrário, aumentaram e muito”, afirmou.
De acordo com a coordenadora do Fórum, atualmente, os trabalhadores estão vivendo uma situação de intensa precarização do trabalho, quadro evidenciado por práticas de perseguição e assédio moral. Por isso, muitas vezes, a luta não é por salários maiores, mas por melhores condições de trabalho”, afirmou.
Deputados se manifestam
Durante a audiência, o deputado Celinho do Sinttrocel chamou a atenção para os custos pagos pelo governo federal devido aos acidentes de trabalho, que estão em torno de R$ 70 bilhões – segundo números apresentados pelo parlamentar, no Brasil, ocorrem cerca de 700 mil acidentes por ano.
O deputado disse que os trabalhadores estão submetidos a péssimas condições de trabalho e criticou os empresários. “O lucro e as práticas nocivas do capitalismo estão se sobrepondo à saúde dos trabalhadores. Precisamos sensibilizar os empresários para melhorar este quadro”, acentuou.
Já a presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da ALMG, deputada estadual Rosângela Reis (PV), se comprometeu a debater, futuramente, questões que foram tratadas durante a audiência, especialmente o sucateamento do Ministério do Trabalho e seu papel fiscalizador.
O diretor de Saúde do Sindicato, Rogério Djalma, elogiou a iniciativa do Fórum Sindical e Popular de Saúde e Segurança do Trabalhador e da ALMG, que, pela quarta vez, realizaram evento especial pela passagem do Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.
“São oportunidades importantes, já que nos permitem debater em fóruns maiores, como a Assembleia Legislativa, a situação de precariedade que os trabalhadores estão vivendo dentro das fábricas e, ao mesmo tempo, tentar encontrar caminhos para que esta situação seja superada”, completou.
Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região.

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