Desde o último sábado (24), a
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) conta com um novo
presidente. Trata-se de Adilson Araújo, 45 anos, ex-presidente da CTB no estado
da Bahia por dois mandatos e destacado dirigente do Sindicato dos Bancários
daquele Estado.
Araújo iniciou sua
militância sindical e política no final dos anos 80. Ele participou da fundação
da CTB em dezembro de 2007 e, na esfera institucional, foi também presidente do
Conselho Estadual de Trabalho e Renda da Bahia (Ceter-BA), representando a
bancada dos trabalhadores.
O dirigente assume a
presidência da CTB nacional em um momento de consolidação da Central, dentro de
uma perspectiva de crescimento que deve colocá-la, a médio prazo, entre as três
maiores entidades do país. Para Araújo, essa tarefa exigirá da nova Direção uma
gestão planejada, ousada e audaciosa.
Em entrevista ao Portal CTB,
Adilson Araújo faz um balanço da trajetória da CTB até este momento,
compartilha suas expectativas para o mandato que se inicia, fala sobre a
necessidade de fortalecer as seções estaduais da CTB, da atuação da Central
junto aos sindicatos do campo e reafirma uma política fundamental para os
cetebistas: lutar de forma intransigente pela unidade da classe trabalhadora.
Confira:
Portal CTB:
Finalizado o 3° Congresso da CTB, que balanço é possível fazer do último
período e quais são as perspectivas para a gestão que se inicia?
Adilson Araújo: A CTB aproveitou seu 3º Congresso para fazer uma atualização da
conjuntura internacional e nacional, além de se preparar para os próximos
quatro anos. De forma muito particular, eu penso que o balanço é extremamente
positivo. A CTB, na verdade, foi germinada a partir da compreensão de que o
movimento sindical padecia de um conjunto de problemas, entre eles certa apatia
reinante. A CTB foi construída num movimento que buscou reunir setores
estratégicos da organização da classe trabalhadora, da qual o protagonismo dos
trabalhadores e das trabalhadoras rurais, dos marítimos, do setor
metal/mecânico, entre outras tantas entidades que construíram esta central
sindical democrática, classista e de luta.
A CTB, em sua fundação, teve
como questão fundamental a busca da unidade das centrais sindicais, assim como
a defesa de uma nova Conclat, a partir de um movimento nacional que culminou no
ato do Pacaembu em 1º de junho de 2010. De lá para cá, a gente tem percebido o
quanto foi importante essa decisão, até porque hoje podemos dizer, ao contrário
de um passado recente, que temos um instrumento norteador da nossa luta, que é
a Agenda da Classe Trabalhadora. Todas as nossas ações desde então têm como
centro atualizar essa Agenda. Desta forma, penso que a CTB sacramenta sua
disposição de fortalecer cada vez mais a unidade e os laços de solidariedade
entre a classe trabalhadora, e evidentemente isso traz uma nova perspectiva,
porque encerramos uma etapa vitoriosa, com uma perspectiva real de ser a
terceira ou quiçá a segunda maior central sindical do país, sobretudo a partir
de sua amplitude e sua política acertada. E há uma realidade concreta: hoje
temos mais de mil sindicatos filiados (sendo que desses mais de 700 já estão
reconhecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego). Isso nos garante certa
visibilidade e nos dá a convicção que não somos mais invisíveis perante os
trabalhadores. Lutamos por isso e a CTB, de forma muito apropriada, consegue
consolidar esse quadro, graças, em grande parte, ao esforço de um conjunto de
dirigentes que se dedicou a consolidar a Central, tendo o companheiro Wagner
Gomes à frente desse processo, garantindo uma interlocução interessante com as
demais centrais, com uma série de partidos políticos e os movimentos sociais
como um todo.
Portal CTB:
Que elementos de sua experiência como presidente da CTB-BA irão ajudá-lo nesta
nova tarefa?
Adilson Araújo: O mandato da Direção Nacional foi muito promissor, embora as seções
estaduais tenham vivido uma verdadeira via-crúcis, diante das dificuldades e da
pouca estrutura. Mas é verdade que, pelo fato de termos uma concentração de
sindicatos importantes no estado da Bahia, podemos dizer que não foi tão
difícil colocar de forma prioritária a orientação da Direção Nacional. A base
de sustentação disso se deve aos sindicatos, pois a condição de existir de uma
central sindical está diretamente ligada a esse alicerce, que é a ferramenta
fundamental. Não existe central sindical sem sindicato de base. E na Bahia nós
tivemos a possibilidade de fazer uma transição na qual conseguimos garantir uma
representatividade. Esse cenário permitiu que a gente tivesse na Bahia, do
ponto de vista formal no Ministério do Trabalho, a maioria dos sindicatos e, do
ponto de vista do número de filiados também. Temos hoje cerca de 300 sindicatos
filiados, pois temos federações de trabalhadores importantes, como dos
bancários, rurais, construção civil, metal/mecânico, alimentos, entre outros. E
também um número expressivo de sindicatos urbanos e rurais. Essa força nos
permitiu ter um posicionamento mais audacioso. Pelo fato de a CTB permitir um
novo olhar, conseguimos dar a ela uma nova dinâmica, praticando um sindicalismo
renovado, autêntico e de luta, já que o momento visivelmente permitiu isso e
ainda permite, pois embora estejamos numa crise, o Brasil ainda é um país de
oportunidades e com perspectiva interessante, que, se bem trabalhadas e o
movimento sindical atuar de modo consequente, poderão ser bem melhores.
Portal CTB:
De que forma a Direção vai trabalhar a partir de agora o fortalecimento da CTB
nos estados?
Adilson Araújo: Podemos dizer que colocamos o time em campo e jogamos de forma
satisfatória neste primeiro período. É verdade que a gente precisa ter, a
partir desta gestão que se inicia, uma ação mais planejada, pois o esforço
terminou em parte predominando uma vontade espontaneista, em grande parte por
conta desse desejo novo de se construir uma central sindical, de ir aparando
arestas. Para este novo momento, me parece que se torna fundamental planejarmos
melhor nossa ação. Tenho a opinião de que planejando mais e melhor os
dividendos serão maiores. Temos que ter uma atitude mais elaborada no sentido
de corresponder a um conjunto de problemas existentes. Creio que sem essa
discussão interna e sem vislumbrar um plano estratégico não conseguiremos
desatar os nós. E, como estamos convencidos de que é possível desatar os nós,
vamos fazer a opção de canalizar todos os esforços para uma ação de vanguarda,
propositiva e planejada.
Portal CTB:
Qual sua avaliação da atuação da CTB junto aos sindicatos de trabalhadores e
trabalhadoras rurais? Como ampliar essa atuação?
Adilson Araújo: Temos uma experiência sindical na qual nossa cultura de central
sindical era muito “um pé dentro e um pé fora”. Com a responsabilidade de não ser
mais apenas uma corrente de opinião e dirigir uma central sindical,
pressupõe-se a construção de novos valores. A gente percebia, num passado
recente, que a compreensão do trabalhador do campo era a de que ele não se
sentia representado pela central sindical. Daí surgia um hiato, um
distanciamento muito grande. E foi esse descontentamento que fez com que o
segmento de trabalhadores e trabalhadoras rurais assumisse o compromisso de,
coletivamente, construir a CTB. A CTB, portanto, jogou um papel fundamental
nesse processo. Há uma necessidade objetiva de aproximar o trabalho sindical
urbano com o rural. Considero que a CTB só irá consolidar essa proposta se
souber combinar a praticidade com essa necessidade de colocar o pé no barro e
conhecer mais de perto o drama que é fazer a luta sindical no campo, seus
valores, sua cultura. Isso requer uma maior aproximação. Acho, inclusive, que a
CTB nacional precisa constituir um departamento ou uma secretaria que, junto do
núcleo político da Central, possa se ambientar mais desse cotidiano, buscando
repercutir mais a luta sobre as questões agrárias, pois essas demandas ainda
não conseguimos responder. Precisamos ter uma radiografia mais apurada dessas
necessidades, para que a CTB tenha definitivamente uma marca sindical que
vislumbre essa unidade entre os trabalhadores do campo e da cidade.
Portal CTB:
Qual deve ser o rumo da CTB em sua atuação internacional para o próximo
período?
Adilson Araújo: No passado recente, nossa interlocução no plano da articulação sindical
era quase inexistente. Com o surgimento da CTB, pudemos ampliar nosso leque de
atuação. Os problemas que afligem um trabalhador na Europa, nos Estados Unidos
ou no Japão são os mesmos problemas da realidade brasileira. Num ambiente
globalizado, as respostas precisam ser mais dinâmicas e o fortalecimento dos
laços de solidariedade devem ser cada vez mais amplos. O mundo impõe uma agenda
regressiva e não conseguiremos enfrentar essa agenda se não tivermos uma ação
unitária global, de enfrentamento ao capitalismo. A CTB deve ter em sua
ação prioritária uma política para se fortalecer cada vez mais no plano da
articulação, na interlocução e na troca de experiência com sindicatos
internacionais, sobretudo a partir do fortalecimento de sua presença na
Federação Sindical Mundial (FSM) e no Encontro Sindical Nossa América (ESNA),
onde ela tem um papel fundamental de ajudar na construção dessa movimentação
que se sucede desde a eleição de Chávez, em 1998. Toda essa movimentação releva
a participação da CTB em cenário internacional.
Portal CTB:
Existe grande descontentamento no meio sindical sobre a falta de diálogo do
governo federal com a classe trabalhadora. O que se pode esperar desse
relacionamento daqui por diante?
Adilson Araújo: O governo foi concebido a partir do esforço das massas populares. A
eleição de Lula é emblemática nesse processo, pois representou um freio ao
neoliberalismo. Essa mudança política abriu uma nova perspectiva e os ganhos
dos últimos dez anos precisam ser avaliados. Sob o contexto da luta política
nacional, tivemos mais ganhos do que derrotas. Mas esse é um governo
contraditório, que tem limites e que está em disputa. Nesse sentido, a classe
trabalhadora precisa conceber a defesa de sua tese também, ter uma plataforma
de luta ajustada, audaciosa. Temos plena clareza de que, se o governo é de
direita, isso exige certo recuo por parte da classe trabalhadora. Mas se o
governo faz parte do campo democrático-popular, exercer mais pressão contribui
para que ele se aproxime mais das reivindicações da maioria da população –
trata-se de um comportamento legítimo. O movimento deve se manter sempre
atuando na defesa de sua autonomia, de forma consequente e ajudando a construir
um governo cada vez mais avançado, que possa corresponder ao clamor da Nação. O
movimento sindical não vai abrir mãos de suas bandeiras. Precisamos defendê-las
e fazer de tudo para darmos uma arrancada no desenvolvimento. Isso vai com
certeza exigir da nossa parte uma posição cada vez mais firme, pois o governo
tem seus limites. Se você observar a política macroeconômica do país, vemos que
o governo não encontrou ainda o caminho ajustado, pois acaba prevalecendo uma
posição muito conservadora, com um cenário no qual os empresários conseguem
resposta a seus anseios de forma mais rápida do que a classe trabalhadora. Fica
comprovado que precisamos ganhar as ruas e pressionar para que o governo tenha
uma posição mais avançada, de modo a sair do olho do furacão. Estamos às
vésperas de uma grande batalha política, na qual temos que lutar para evitar
qualquer possibilidade de retrocesso.
Portal CTB:
O cenário político-eleitoral iminente pode trazer riscos para a unidade das
centrais?
Adilson Araújo: O movimento sindical brasileiro está diante de uma nova conformação.
Neste período mudancista nascem novas organizações, que brotam no desejo de
fazer o confronto, no sentido de contribuir para o Brasil avançar. A unidade
das centrais é imperativa, mas é claro que não há uma camisa de força. O que
precisa prevalecer é a compreensão de que o inimigo não está entre nós, temos
que definir o nosso lado. Devemos continuar defendendo o fortalecimento da
unidade das centrais. Isso não quer dizer que essa unidade não possa sofrer
alguma mudança por causa da batalha político-eleitoral. Mas a melhor alternativa
para a classe trabalhadora é caminhar unida, para garantir a manutenção do que
foi conquistado e com a perspectiva de influenciar o processo político. A
classe trabalhadora é a força-motriz da nação e tem autoridade moral para dizer
qual o melhor caminho para a nação. Se não nos posicionamos para influenciar o
debate político, podemos perder a batalha.
Portal CTB:
Qual o cenário que você vislumbra para a CTB daqui a quatro anos, no próximo
Congresso?
Adilson Araújo: Não podemos ter uma visão mecânica da central sindical. Acho que a
experiência vivida na Bahia pode ter sido boa para o estado, mas para a CTB
nacional teremos que experimentar algo de novo. E isso vai demandar muito da
Direção, a partir de sua capacidade de convencer as pessoas. Fundamentalmente,
mais do que o desejo pessoal, temos um projeto, que será exitoso se ganharmos
um conjunto de dirigentes para construir esse projeto coletivamente. Devemos
fazer uma gestão planejada, ousada e audaciosa. Vislumbro, por exemplo, que
para o próximo período temos que dar um tratamento especial para a política de
comunicação da Central. As experiências de alguns sindicatos contribuem para
que tenhamos um projeto mais ousado nessa área. Temos que nos inserir de forma
mais ousada e dinâmica junto aos demais veículos de comunicação, quem sabe com
uma TV na internet, com uma revista de periodicidade mais frequente. A CTB terá
que se constituir como um tipo de agência, capaz de produzir peças
publicitárias, criar fatos políticos e outros materiais. A comunicação hoje
traz esse debate pela democratização e isso serve para ver que temos que ser
criativos para fazer essa disputa. Mas isso exige da Direção uma tomada de
posição. Valorizar essa política tem que ser uma das prioridades. Outra
política que temos que discutir é a criação da Escola Sindical Nacional, para
propiciar uma maior preparação e qualificação dos dirigentes. Temos que ter
também uma política de fortalecimento das seções estaduais, algo que com
certeza demandará uma nova política de finanças. Temos que reduzir a inadimplência,
combater a sonegação e garantir a plena participação das entidades,
contribuindo e prestando conta para que as entidades possam se sentir cada vez
mais parte do processo. Essas são algumas das ideias que temos para essa gestão
que se inicia. No plano da organização, será fundamental constituir uma central
de organização, apoio e logística para as entidades sindicais. Sob o comando da
Secretaria Geral, temos que dispor de resposta profissionalizada ao processo de
regularização, atualização cadastral e acompanhamento das entidades sindicais.
Se fizermos esse esforço, poderemos ter, ao final de 2014, cerca de 300
sindicais a mais registrados no Ministério do Trabalho. Devemos ter essa meta
em 2014. Esse organismo será fundamental para isso. Por fim, temos também um
departamento ou uma estrutura que seja um plantão com representantes sindicais
do campo, para que no conselho político seja possível dialogar mais com os
trabalhadores rurais e dar sequência a esse trabalho prático e teórico junto à
representação do campo. Isso ajudará bastante para termos mais interlocução
entre o movimento sindical do campo e da cidade.
Fonte: Portal CTB.
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