A sequência de escândalos
que tem atingido o Ministério do Trabalho e Emprego desde o segundo semestre de
2011 tem uma causa e um nome: Carlos Lupi. Ele e seus aliados formam uma
“quadrilha que se instalou na direção do PDT” e, devido ao “pragmatismo
eleitoral” do governo federal, continua encastelado no MTE, na opinião do
ex-ministro Brizola Neto, demitido no último mês de maio.
Para Carlos Daudt Brizola,
neto do gaúcho Leonel Brizola, a falta de protagonismo e de iniciativas na
formulação de políticas públicas, principal papel do MTE durante a maior parte
de sua história, também decorre do aparelhamento da pasta pelos mesmos personagens
das páginas policiais, que Brizola Neto ressalta não serem o PDT, mas o comando
da agremiação.
“O que aconteceu no PDT é
que a direção do partido parece querer usar o Ministério do Trabalho para se
locupletar. E acha que, dentro da composição política, o MTE é o seu quinhão”,
diz.
Após a consolidação dos
direitos trabalhistas, no decorrer das décadas de 1930, 40 e 50, até o governo
de João Goulart, o Golpe de 1964 “esvazia esse processo”, lembra o ex-ministro.
“Perdeu-se a capacidade de articulação dos movimentos sociais, dos sindicatos
se sustentarem e manterem aquelas conquistas, alguns direitos durante a própria
ditadura foram retirados, como a estabilidade no emprego, e depois ainda vimos
isso avançar com mais força nos anos neoliberais”.
Para Brizola Neto, após o
período do regime (1964-1985), o MTE voltou a passar por dificuldades na
chamada era FHC (1995-2002). “Aí, começaram a propor realmente a concreta
derrubada e a substituição deste momento histórico brasileiro por uma nova
ordem.
O presidente Fernando
Henrique chegou a anunciar isso: ‘É o fim da Era Vargas’, e com essa frase
queria dizer também o fim das instituições, dos direitos que o trabalhador
brasileiro tinha adquirido ao longo daquelas décadas”.
O ex-ministro lembra que se
chegou a votar na Câmara dos Deputados a flexibilização da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT). “A partir daí o Ministério do Trabalho foi perdendo seu
protagonismo. A gente viu esse ministério ser esvaziado, com figuras que eram
nomeadas sem compromisso com a história, e o capital produtivo se atolar de
cabeça na economia financeira, criando um endividamento brutal. Ali, nos anos
duros de Fernando Henrique, se tiraram praticamente as condições de se produzir
no Brasil”.
Em consequência disso, com o
“desemprego absurdo” e a diminuição da massa de trabalhadores com carteira
assinada, e, portanto, organizados, que contribuíam também para a Previdência
Social e fundos como o FAT e o FGTS, “o protagonismo do ministério, sem dúvida,
foi diminuindo”, analisa.
Por fim, após um período
comandado por figuras representantes do trabalho na luta contra o capital, como
Ricardo Berzoini e Luiz Marinho, ambos do PT, a entrada do grupo ligado a
Carlos Lupi esvaziou ainda mais a capacidade de operar políticas públicas do
MTE.
Lupi, do PDT, assumiu o
ministério em março de 2007, no lugar de Marinho, e em dezembro de 2011 caía,
vítima de denúncias de fraudes e cobrança de propina de ONGs prestadoras de
serviços ao ministério, além da acusação de desvios de verbas para o caixa do
PDT, entre outras.
Carlos Lupi foi substituído
interinamente por um homem de sua confiança e politicamente criado por ele,
Paulo Pinto, ex-funcionário de uma agência do Banco do Brasil em Nova Friburgo
(RJ), que se mudara para Brasília assim que o padrinho assumiu o MTE, em 2007.
Brizola Neto chegou ao
comando da pasta após quatro meses de interinidade de Pinto, sem apoio do
presidente do PDT, e afastou vários membros do alto escalão do MTE, incluindo
Paulo Pinto e Anderson Brito Pereira, ex-assessor especial no ministério.
Perguntado por que em maio
de 2013 foi demitido do MTE, agora comandado pelo catarinense Manoel Dias,
Brizola responde: “Porque o partido pressionou a presidente dizendo que eu não
atendia as pretensões do partido”. Segundo ele, a primeira dessas pretensões
era a nomeação de Paulo Pinto como secretário-executivo, o que ocorreu logo em
seguida a sua saída. Agora, Pinto cai novamente, acusado de ser parte da
quadrilha desmontada pela Operação Esopo, realizada em 9 de setembro.
Em entrevista à RBA por
telefone, Brizola fala desse tema e do que pensa do seu partido, o PDT, e da
atual conjuntura no MTE.
Por que o senhor saiu do ministério?
Porque o partido pressionou
a presidente dizendo que eu não atendia as pretensões do partido, e não
atenderia mesmo.
Quais eram essas pretensões?
A primeira delas, a nomeação
do Paulo Pinto como secretário-executivo. Exigência da direção do partido
através do Lupi. Sentou num café da manhã e me disse: ‘Olha, para ter apoio do
partido tem que botar o Paulo Pinto lá’. E eu sei de quem se trata, conheço
essa figura, não tem nenhum lastro partidário, nunca foi do PDT, a única razão
da permanência dele lá é sua amizade pessoal com o Lupi e eu não estava no MTE
para isso. Essa foi a primeira de muitas divergências.
O que fez, em sua gestão, para retomar o chamado
protagonismo do MTE?
Quando a gente trouxe para
as concorrências do MTE o sistema S, as escolas técnicas, estávamos fazendo um
marco para priorizar e destinar direto os recursos para as escolas técnicas,
mais ou menos como faz o Pronatec, e a gente estava desagradando de novo.
Pegamos aqueles programas assistenciais, eleitorais, e igualamos ao Pronatec.
Fizemos reunião do Codefat.
Cheguei a conversar, quando
cheguei lá, com as escolas técnicas, com o sistema S.
Por que não participavam das
concorrências do Ministério do Trabalho? Eles falavam: porque a tarifa é muito
baixa, você não consegue qualificar de verdade. Explicamos a necessidade de
aumentar a tarifa (paga) para atrair as escolas técnicas e o sistema S para as
concorrências, estávamos preparando um marco para dar prioridade às escolas
técnicas e depois ao sistema S, mas não deu tempo de ser feito. E para nossa
surpresa, depois de fazer isso tudo, com o retorno do Manoel Dias, eles
reduziram a tarifa de novo.
E aí o que acontece? Você
tira o sistema S, tira as escolas técnicas das concorrências, cria o ambiente
ideal para instituições que não têm compromisso nenhum com o país nem com os
trabalhadores. Agora parece que as provas estão sendo produzidas por quem tem
de produzir, a Polícia Federal.
Durante o governo Lula e
Dilma houve reconquistas importantes, como o aumento da massa de trabalhadores
empregados e formalizados, do emprego, novo marco regulatório do petróleo.
Isso, é claro, trouxe de volta, poderia ter trazido de volta, algum
protagonismo ao ministério, o problema é as gestões que se apresentaram por lá.
Criaram-se programas, mas esses programas preparavam pouco para as necessidades
da economia brasileira, para os setores do desenvolvimento.
Era meio impossível com os
parâmetros daqueles cursos você conseguir fazer preparação para a indústria do
petróleo, agroindústria, setor industrial, indústria naval. A gente ia
verificar os cursos que o ministério dava, e eram na verdade subempregos.
O absurdo é o Estado ter
perdido a capacidade de exercer e de executar suas próprias políticas e
depender de terceirização. Quando o governo contrata essas instituições (como
as ONGs envolvidas em escândalos), está contratando uma instituição para
prestar o serviço que na verdade deveria ser obrigação do Estado.
Como encara os escândalos que envolvem o PDT?
Com muita tristeza. Você vê
um partido que por muito tempo foi visto com esperança por milhões de
brasileiros, líderes como Brizola, e hoje está condenado a ter na direção
pessoas como Lupi e Manoel Dias. Verdadeiros companheiros do Brizola que ainda
estão vivos, todos eles saíram do partido.
O Fernando Brito, que
acompanhou Brizola trinta anos como assessor de imprensa; o Nilo Batista, está
todo mundo saindo do partido. Todo mundo vendo que aquela instituição à qual
muitos deram a vida já não representa mais o sonho e a esperança de
brasileiros, de um país mais justo que defende os trabalhadores, soberania
nacional, educação, que eram as marcas do Brizola.
E seu futuro no partido?
Eu não posso ter futuro na
política se não for o de tentar retomar esse partido. Até porque o cenário
partidário é muito ruim para mim, não tem uma alternativa. Você pega os outros
partidos e o cenário não é tão diferente, não se vê um partido onde a
democracia interna seja tão forte assim, onde não tenha também pessoas sendo
investigadas, e o pior de tudo, eu não tenho a segurança de ir para nenhum
partido que tenha a história que é a razão de existir do PDT.
Se ainda existe PDT, não é
pelo que acontece no presente, é o que aconteceu no passado, pela sua história,
e é por essa história que acho que vale a pena lutar. É uma história que não se
pode jogar fora e pela qual vale a pena lutar contra essa quadrilha que se
instalou na direção.
Podiam dizer que o Brizola
era duro, que em determinados momentos era intransigente, mas jamais que era
envolvido com corrupção. Eu saí do ministério porque meu partido me tirou. Me
tirou porque eu não atendi a seus interesses. Aí você me pergunta quais são.
São esses que estão sendo revelados pela Polícia Federal.
Como vê particularmente a situação do PDT no Rio?
Não é diferente. O único
estado em que o partido ainda conserva um pouco da sua identidade política é o
Rio Grande do Sul. Aqui no Rio de Janeiro, onde era muito forte, tiveram as
seguidas traições, a traição do Cesar Maia, depois do Marcelo Alencar, depois
do Garotinho, principalmente do Garotinho. Isso esvaziou muito o partido.
Hoje, a gente funciona
infelizmente aqui como um apêndice do PMDB. E um governo desgastado,
desmoralizado, que do ponto de vista das políticas é uma espécie de negação do
que era o governo Brizola. Principalmente na questão da segurança, essa ilusão
de que se vai acabar com a violência no Rio de Janeiro armando as comunidades e
ocupando esses territórios como tem feito a Polícia Militar, ao invés de se
fazer um investimento social, de se promover escola de tempo integral para as
crianças poderem estudar e ter oportunidade na vida, e o PDT apoiando este
governo sem nenhuma vergonha.
Como avalia o fato de esse grupo do PDT estar dentro
de um governo de esquerda, considerado progressista?
Vamos ser claros. O governo
acabou cedendo ao pragmatismo eleitoral, que pode até ser justificado em parte,
mas não dá para que todo mundo concorde com ele, porque o resultado é muito
ruim. Tem gente que defende esse pragmatismo eleitoral; tem gente que acha que
ele acaba levando ao descaminho, e no caso do Ministério do Trabalho ficou
muito claro. É um descaminho republicano, mesmo.
O senador Cristóvam Buarque
disse a seguinte frase: “É triste reconhecer, mas desde que assumiu o
ministério, o PDT ficou irrelevante politicamente e suspeito eticamente”.
Não, acho que ele está
querendo inverter as coisas. O problema não está no governo. O problema pode
até estar dentro da coalizão política, mas dentro desta coalizão o problema
está dentro do PDT. O que eles estão propondo diante desta crise? Sair do
governo. O PDT está corrupto porque tem uma direção corrupta, inclusive que ele
(Cristóvam Buarque) apoia. Apoiou reiteradamente. Em um ano na minha gestão não
teve um único escândalo, um único caso de corrupção. O MTE saiu das páginas
policiais. Bastou voltar a direção do partido, através do Manoel Dias, que não
durou quatro meses.
Como vê o quadro político para 2014?
A gente está caminhando num
processo firme de retomada do desenvolvimento nacional, mas a gente teve alguns
recuos, é inegável que tivemos alguns recuos na economia, houve uma retomada no
aumento na taxa de juros.
A gente vê também algumas
concessões a setores midiáticos, e também na questão política. Como é que a
gente vai achar que não há nenhum retrocesso, quando o pragmatismo eleitoral
falou tão alto nesse processo? Mas, apesar de todos estes retrocessos, não há
nenhuma alternativa no país que caminhe para o desenvolvimento da nossa nação,
que garanta soberania nacional, e com isso desenvolvimento econômico e justiça
social, como é a alternativa da presidente Dilma.
Fonte: Rede Brasil Atual.
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