Eleição presidencial no Brasil pós-ditadura não se decide entre
candidatos e respectivos partidos. As subidas e descidas da Bolsa e do
dólar, a cada pesquisa ou a cada boato da eleição presidencial, mostram
bem o que é a chamada “elite financeira” brasileira. E, por extensão,
atingem a alardeada ética da imprensa, da TV e das rádios.
As altas por euforia e as quedas por desalento eleitoral são reações
falsas. A Bolsa não espera mais do que um punhado de horas para provar a
falsidade. E o faz do modo mais objetivo e inequívoco. Já no dia
seguinte, a queda é sufocada por subidas, ou o inverso. Mas o motivo
alegado para a reação na véspera não cessou, sendo frequente que até
aumentasse, com resultados mais fortes do que o esperado das pesquisas e
pelos boatos.
A eleição presidencial é transformada em pretexto, pelos
manipuladores da Bolsa, para provocar os movimentos de alta e de baixa
que alimentam o jogo especulativo, com as valorizações e depreciações de
papéis que não precisam ser mais do que artificiosas. É o tal cassino,
catedral do capitalismo que gira em torno de lucros com juros e renda de
ações, não de produção. O capitalismo brasileiro.
Na imprensa, na TV e nas rádios, os movimentos da Bolsa a pretexto da
eleição ganham o seu papel de influência eleitoral. As quedas e as
subidas recebem destaque de fatos relevantes quando se prestam a
significar repulsa por determinado candidato. Se a subida ou queda não
trouxer tal possibilidade, a Bolsa terá o seu noticiário habitual.
Eleição presidencial no Brasil pós-ditadura não se decide entre
candidatos e respectivos partidos. Integram a disputa os candidatos, os
partidos, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e até a Bolsa
de Valores. Imprensa, TV e rádios também, claro, mas em outro diapasão,
porque participam das eleições como de tudo mais o tempo todo.
Registre-se a nota social, aliás, do Judiciário como debutante na
disputa eleitoral, em par com o Ministério Público (também chamado de
Procuradoria da República). Daí resultou a interessante coincidência, no
calendário, entre o primeiro turno eleitoral e a delação premiada sob
um novo sistema: o de sigilo judicial com alto-falante. E, ainda melhor,
esta outra obra do acaso, que foi o primeiro depoimento judicial de um
delator, com o previsível vazamento, logo no primeiro dia da disputa de
segundo turno.
Já que as coincidências estão aí, convém repor no seu lugar aquela
com que Fernando Henrique prova continuar querendo que se esqueça o que
disse, por escrito ou de viva voz. Em entrevista a Mário Magalhães e a
Josias de Souza, para o UOL, disse ele que “o PT está fincado nos menos
informados, que coincide de serem os mais pobres”.
Não há como negar a interpretação de que a frase atribui o voto no PT
a inferioridades culturais e sociais, não existentes nos eleitores de
outros partidos. Ninguém, portanto, entre os muitos que viram na frase
uma divisão preconceituosa do eleitorado, mentiu sobre a autoria, a
própria frase e o seu sentido, como Fernando Henrique os acusa com
virulência. O blog do Mário Magalhães ainda remete para a entrevista.
Entre o Bolsa Família e a Bolsa de Valores, há mais do que uma disputa eleitoral entre os mal informados e os bem deformados.
Por Jánio de Freitas, colunista da Folha de S.Paulo
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