A
capital mineira pode ter se tornado o marco para um segundo momento da trama
política com a reação popular ao golpe. Na última sexta-feira (20/05) Belo
Horizonte se preparou para receber a presidenta Dilma que iria participar do 5o Encontro de
Blogueir@s e Ativistas Digitais, primeira aparição pública depois de seu
afastamento. Um ato espontâneo dos belo-horizontinos superou a convocação da
Frente Brasil Popular e levou de forma rápida mais de 40 mil pessoas para
frente do hotel que acontecia o encontro.
Dilma foi ovacionada e recebida por um ato emocionante de apoio. Frases
como “Fora Temer” e “Volta querida” ecoaram pelas ruas próximas ao hotel.
A
presidenta legitimamente eleita foi recepcionada pelo presidente da CTB/MG, Marcelino da Rocha e a presidenta da
CUT/MG Beatriz Cerqueira. Dezenas de manifestações de carinho se juntou a
soltura de balões vermelhos que levaram o símbolo da liberdade aos céus da
capital. As centrais sindicais e as entidades que compõem a Frente Brasil
Popular seguiram com a manifestação até a porta da Funarte, onde ocorre mais
uma ocupação das 22 espalhadas por todo o País em protesto contra o golpe.
Do
lado de dentro, Dilma Rousseff disse estar surpresa e chorosa com a enxurrada
de apoio que acabava de receber. A emoção, porém, não afastou a sua força para
reafirmar que irá resistir até o fim e desmascarar os golpistas na segunda fase
do processo no Senado. Na abertura do
encontro, Dilma denunciou o projeto golpista de desmonte do Estado com algumas
das ações que já ganharam as manchetes do jornal nesse período de governo
ilegítimo. A presidenta também se defendeu mais uma vez das acusações. Segundo
ela, o conteúdo dos decretos que fazem parte da peça de acusação são idênticos
a outros assinados por ex-presidentes. Ela citou o caso de Fernando Henrique
Cardoso que durante seu mandato assinou 30 decretos iguais aos seis que foram
apresentados pelos autores do impeachment. “Não era crime naquela época e não é
crime agora” reafirmou.
Derrotar o golpe
A
capacidade de reverter o quadro de golpe no Brasil foi reafirmada por todos os
participantes das mesas de debate do encontro que aconteceu até domingo. O
presidente da CTB/MG, que esteve na manifestação no dia anterior, conduziu as
duas mesas do debate da manhã junto com a presidenta da CUT/MG, Beatriz
Cerqueira. “Foi montado uma máfia em Brasilia, e em sete dias fizeram mais
assaltos aos direitos individuais e coletivos ao povo brasileiro do que em décadas
passadas. Espero que a gente possa nas ruas com muita ousadia reverter esse
quadro”
O
jornalista e blogueiro Paulo Moreira Leite reafirmou por diversas vezes que
acredita que o golpe pode ser derrotado. “A resistência da população ao golpe
começou antes do golpe, continuou e tende a prosseguir. A manifestação em BH
foi um marco, um protesto importantíssimo de resistência popular.” Paulo
Moreira Leite também chamou atenção para a imposição da pauta golpista no
Congresso que derrotada quatro vezes nas eleições.
Contrainformação
O
papel da comunicação no enfrentamento do golpe também foi tema de debate. Para
Laula Capriglione, idealizadora do Jornalistas Livres, o momento é fundamental
para dialogar com a classe média que começa a entender os riscos do golpe. Para
ela a desconfiança básica com a rede Globo foi introduzida na “corrente
sanguínea da população brasileira”. Laura alertou também para que o ativismo
digital não favoreça mentiras que podem prejudicar o debate. “Os golpitas vão
jogar cascas de bananas para a gente cair. É preciso saber disso e não cair.
Espalhar informações sem credibilidade é uma casca de banana para depois eles
nos acusar” alertou.
A
voz da antinarrativa também foi defendida por Marco Weissheimer, jornalista e
blogueiro de Santa Catarina. Para ele, o
que acontece no Brasil é um combate a onda fascista que cresce em escala
mundial. “O Brasil não é um ponto fora da curva, o que está acontecendo aqui,
está acontecendo – com diferenças e escalas – na Argentina, na Bolívia, na Venezuela,
no Equador e em vários países.”
Direito à comunicação
Na
segunda mesa, os participantes destacaram as ameaças à comunicação pública, ao
marco civil regulatório e a internet no Brasil. Esses ataques tem ações
concretas do novo governo golpista que nas primeiras medidas demitiu
ilegalmente o presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). O retrocesso
pode ser ainda maior com risco direto à construção da comunicação pública,
segundo uma das coordenadoras do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação
(FNDC), Rosane Bertolli.
A
internet como conhecemos hoje também é alvo da pauta conservadora do Congresso
que ganha força com a equipe de Temer/Cunha. De acordo com Bia Barbosa, do
Coletivo Intervozes, as mudanças nas leis podem intervir radicalmente nos
direitos dos internautas. Para ela estão claramente ameaçados a neutralidade na
rede e o acesso à internet. A neutralidade diz respeito a visualização do
conteúdo, um principio em disputa em todo mundo. Mantida a neutralidade, não se
pode priorizar um conteúdo sob o outro. Então, portais da grande mídia tem o
mesmo critério de acesso que blogs progressistas, por exemplo. Outros projetos
que censuram e espionam o usuário na internet podem entrar em pauta a qualquer
momento na Câmara. Limitar a franquia na internet fixa também é uma sanha do
mercado que pode vir com mais força com os usurpadores no poder.
Cultura
O
teatrólogo Marcelo Bones esteve no encontro para relatar o posicionamento da
Frente Nacional do Teatro, criado a partir do movimento de ocupações de sedes
do Ministério da Cultura em 23 estados. Bones afirmou que tem convicção de que
o fim do MinC não é provocado pelo desejo de eficiência dos gastos públicos,
mas sim para desmontar o que foi criado nos últimos anos. De acordo com ele, a
luta dos(as) artistas não termina com a volta do MinC porque a trincheira que
foi construída é contra o golpe.
Carta
Os(as)
blogueiros(as) e ativistas digitais aprovaram ao final do encontro um documento
com diretrizes de luta. A Carta de Belo Horizonte estabelece as ações dos(as)
ativistas para enfrentar o governo ilegítimo que se instalou no Brasil no
último dia 12.
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