Quase dois meses após as fortes chuvas que atingiram Belo
Horizonte e deixaram um rastro de destruição e morte, vários moradores ainda
esperam por obras de recuperação de vias, moradias e limpeza de córregos. Esta
é a situação da Vila Pinho, na periferia da capital, uma das regiões atingidas
pelas chuvas.
Na tarde do dia 28 de janeiro, o córrego que corta a região transbordou,
derrubou casas e deixou dezenas de famílias desabrigadas.
Para piorar, alguns desses imóveis caíram no leito do córrego
e isso provocou um desvio do ribeirão. As águas, agora, avançam sobre outras
casas e ameaçam vários moradores.
“Estamos pedindo para a Prefeitura apenas a limpeza do
córrego para que a água volte ao seu curso natural”, explica Dulce Silva,
representante da comissão de moradores da Vila Pinho.
Ela conta que vários pedidos foram feitos à Prefeitura por
meio da Associação dos Moradores da Vila Pinho e, até o momento, nenhuma
resposta foi dada pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD).
“Somos lembrados pelo
poder público só em época de eleição. Os políticos prometem obras e depois
desaparecem. Temos um sentimento de abandono, mas também de revolta”, resume
Raquel Rodrigues, de 36 anos, moradora da Vila Pinho há 15 anos.
Em outras regiões da cidade, a chuva também deixou um rastro de
destruição. Bairros de classe média alta, como o São Bento, foram atingidos.
Ruas viraram rios, o asfalto cedeu, carros foram arrastados e pessoas ficaram
“ilhadas”.
Nessas áreas, porém, a Prefeitura de Belo Horizonte já
concluiu as obras de revitalização.
“Infelizmente, existe essa diferença de tratamento. Nas áreas
nobres, a ação da Prefeitura é mais rápida graças ao poder aquisitivo desses
moradores”, constata Dulce Silva.
De acordo com o balanço da Defesa Civil divulgado na ocasião, 44 mortes tinham sido confirmadas em todo o Estado. A cidade com mais mortes, Belo Horizonte, registrou 13 óbitos. Muitos morreram soterrados em meio a lama e escombros. Na Vila Pinho, felizmente, ninguém morreu.
Caminhada pela vida
No último dia 08, Dia Internacional das Mulheres, os
moradores da Vila Pinho realizaram uma caminhada pelas principais ruas do
bairro com o objetivo de chamar a atenção para os problemas da região. O
movimento foi organizado pela Associação dos Moradores da Vila Pinho e reuniu
centenas de pessoas.
A caminhada teve início na Rua A, passou pela Rua Coletora e
chegou até à Avenida Perimetral, a principal da Vila Pinho. Com um carro de som
e várias faixas, os moradores denunciaram o descaso da Prefeitura.
Uma “Carta aberta à população” também foi distribuída ao
longo da caminhada. O documento destacou as principais reivindicações dos
moradores. Entre elas, a limpeza do córrego e a sua canalização, a instalação de um gabião
(estrutura de aço preenchida com pedras para se evitar deslizamentos), a construção de um novo centro de saúde e a reforma do
Parque Ecológico.
“Foi um momento importante. Tivemos a oportunidade de
dialogar com os outros moradores e mostrar que estamos lutando pela vida, afirma
o presidente da Associação dos Moradores da Vila Pinho, Exupério Dias da Silva,
ao acrescentar que o próximo objetivo é marcar uma audiência pública para
discutir os problemas da região.
“A Defesa Civil prometeu que começaria a limpeza do córrego
logo após o Carnaval e até o momento não deu nenhuma resposta. Somos seres
humanos e também e merecemos respeito”, diz ele.
Associação
A Associação Comunitária Santana da Vila Pinho completa 33
anos neste segundo semestre. Neste período, a entidade sempre buscou promover a
participação dos moradores nas diversas lutas de interesse da região.
A Associação também promove, em parceria com outras entidades
de classe, cursos profissionalizantes e atividades esportivas.
Anderson Pereira
Fotos: Associação dos Moradores da Vila Pinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário