Vinte e dois metalúrgicos
morreram vítimas de acidentes do trabalho em Betim e Região nos últimos oito
anos. No mesmo período, o número de acidentes nas fábricas da base foi de
3.749, de acordo com levantamento feito pelo Departamento de Saúde do
Sindicato, baseado nas Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) emitidas
entre 1º de janeiro de 2005 e 13 de fevereiro deste ano.
Neste período, a média de
acidentes foi de 416 ao ano e o de mortes, quase três. O maior número de
acidentes, de acordo com as CATs, foi registrado em 2009, com 573 ocorrências.
Já o de acidentes fatais, em 2012, com quatro casos. Em 2013, até o dia 13 de
fevereiro, foram computados 32 acidentes, que resultaram em uma morte.
Na avaliação do presidente
do Sindicato, João Alves de Almeida, o número alarmante de acidentes de
trabalho e de mortes é consequência da
insuficiência de investimentos, por parte das empresas, na prevenção à
saúde e segurança do trabalhador.
“Aliado a isso, também
existem outros fatores que contribuem para os acidentes de trabalho, como
treinamentos inadequados, ritmo intenso da produção, pressões das chefias, como
ameaças de perda do emprego; imposição de horas-extras excessivas e até
descumprimento das normas de regulamentadoras de medicina, saúde e segurança do
trabalho. Na verdade, as empresas investem em tecnologia, aumento da produtividade
e qualidade de seus produtos, mas não cuidam do principal, que é a vida humana”.
João Alves acrescenta que,
antes de tudo, os próprios trabalhadores precisam se conscientizar de que devem
se prevenir e denunciar as condições adversas de trabalho. “Vender nossa força
de trabalho não pode ser confundido com vender a vida aos patrões”.
CAT
Apesar da grande quantidade
de acidentes, o número pode ser ainda maior, alerta o diretor responsável pelo
Departamento de Saúde do Sindicato, Rogério Djalma. “Nem sempre as ocorrências
são registradas. Por isso, em caso de acidente de trabalho, é fundamental que
os trabalhadores exijam da empresa a emissão imediata da CAT. Caso isso não
seja feito, o próprio trabalhador pode emitir o documento ou entrar em contato
com o Sindicato para que o registro seja providenciado”.
Como prevenir é melhor do
que remediar, o diretor de Saúde do Sindicato orienta, ainda, para que os
metalúrgicos não aceitem trabalhar sem os Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) necessários e sob condições de segurança inadequadas. Caso os
equipamentos não sejam fornecidos, denuncie ao Sindicato.
Também é de suma importância
escolher bem os membros das Comissões de Prevenção de Acidentes (CIPAs). “Cabe
aos cipeiros a tarefa de acompanhar de perto as condições de segurança no chão
de fábrica, apontando as falhas e sugerindo mudanças de forma a se evitar a
ocorrência de acidentes e de problemas que possam pôr em risco a saúde dos
trabalhadores. Para que isso aconteça, temos que eleger companheiros realmente
comprometidos com os trabalhadores, e não com seus próprios interesses”,
conclui Rogério Djalma.
2013 começa com
acidente fatal
Em janeiro deste ano, mais
um grave acidente de trabalho fatal foi registrado na planta da Teksid do
Brasil / Nemak Alumínio, metalúrgicas do grupo Fiat, em Betim. Desta vez, a
vítima foi o metalúrgico Pedro Tavares Neto, 32 anos, que trabalhava no setor
de Fornos da Teksid. Acidentado no dia 24, o trabalhador morreu dias depois no
Pronto Socorro João XXIII, em Belo Horizonte.
A Teksid e a Nemak são
classificadas como fábricas de alto risco para acidentes de trabalho (Grau 4).
Ou seja, nas quais os cuidados devem ser redobrados e devem ser aplicadas à
risca as normas regulamentadoras de saúde e segurança estabelecidas pelo
Ministério do Trabalho.
Em 2012, quatro metalúrgicos
morreram em Betim, três na planta da Teksid/Nemak e um na Fiat Automóveis (Comau).
Na Comau, a vítima foi o metalúrgico Maurílio Barbosa Corrêa, 47 anos, que
sofreu um grave acidente no dia 17 de novembro, vindo a falecer semanas após.
Eletricista, ele trabalhava no setor de Pintura (Galpão 3), quando foi atingido
por uma explosão numa caixa de energia.
Para o diretor do Sindicato
Paulo Braz, que trabalha na Comau, acidentes como este provam que os
procedimentos para vários tipos de manutenção na fábrica devem ser repensados.
“Primeiramente, é preciso garantir a integridade física do trabalhador, depois
o funcionamento das máquinas. Além disso, não podemos admitir pressões sobre os
trabalhadores da manutenção, que aumentam os riscos de acidentes”.
De acordo com o Departamento
de Saúde do Sindicato, até a publicação desta reportagem a entidade não havia
recebido a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) referente ao acidente
sofrido por Maurílio Barbosa.
Acidentes são denunciados ao Ministério do Trabalho
O Sindicato sempre se
preocupou com a saúde e segurança dos trabalhadores na fábrica. Exemplo disso
foi a contratação do primeiro médico do trabalho por um entidade sindical na
região. Além disso, o Departamento de Saúde da entidade tem procurado discutir
com as empresas, de forma transparente, mecanismos que protejam a saúde dos
trabalhadores.
Ao longo dos anos, o
Sindicato tem participado de fóruns municipais, estaduais e nacionais
preocupado com a defesa da saúde e segurança dos trabalhadores. Também pediu a
intervenção do Ministério do Trabalho, quando necessário, e acionou o
Ministério Público em determinados momentos.
Contudo, “todas essas
medidas só vão ter um resultado de fato quando os trabalhadores entenderem que
a vida não está para negócio”, finaliza o presidente do Sindicato.
Fonte: Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região.
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