Seis trabalhadores foram
resgatados em condições análogas às de escravos em uma obra da MRV no município
de Contagem. O flagrante foi feito em 18 de março por uma equipe de
auditores-fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas
Gerais (SRTE-MG).
As vítimas, todas
originárias do município mineiro de Manhuaçu, onde foram aliciadas, prestavam
serviços em total informalidade, sem equipamentos obrigatórios de segurança, e
estavam alojadas em condições degradantes – sofriam com a falta de higiene e,
inclusive, de alimentação.
A fiscalização foi motivada
por denúncias realizadas pelos próprios trabalhadores. A obra, em fase de
acabamento, era no empreendimento da MRV chamado Parque Fontana D’Itália, um
condomínio fechado de apartamentos com dois quartos.
As vítimas foram levadas ao
local em 11 de março para a execução de serviços de pintura das calçadas e das
passarelas entre os edifícios. Antes, de 28 de fevereiro ao dia 10, elas haviam
trabalhado em uma reforma de um imóvel residencial no bairro Santo Antônio, em
Belo Horizonte, para a empreiteira Teixeira & Sena, que as aliciou em sua
cidade-natal e as levou posteriormente à obra da construtora.
Um dos motivos que levaram a
SRTE-MG a qualificar as condições vividas pelos seis trabalhadores como
análogas às de escravo, além da total informalidade empregatícia, foi o estado
do alojamento em que dormiam. Em visita ao local, uma casa no bairro Estoril,
em Belo Horizonte, onde permaneceram tanto quando trabalharam para a Teixeira
& Sena quanto para a MRV, os auditores-fiscais constataram que não havia
camas para todos os alojados – um deles tinha de dormir em cima de um papelão,
outro o fazia sobre uma lona enquanto um terceiro se acomodava num sofá.
Além disso, não eram
fornecidos papel higiênico, sabonetes, material de limpeza e água quente no
chuveiro. O alojamento foi encontrado sujo e com maus odores pela fiscalização,
e os trabalhadores eram obrigados a utilizar jornais para higiene pessoal. Para
completar, não havia o fornecimento adequado de alimentos, fazendo as vítimas a
passar fome.
Contestação
Questionada pela Repórter
Brasil, a MRV nega as acusações. Segundo posicionamento enviado por sua
assessoria de imprensa, a denúncia não tem fundamento, “considerando que nunca
houve visita da fiscalização ao canteiro de obras da Rua Joaquim José durante a
execução dos serviços de pintura de calçada”.
Em relação ao alojamento em
que ficavam os trabalhadores – mencionados pela construtora como empregados da
Teixeira & Sena –, a assessoria afirma que o imóvel apresenta condições
“adequadas de moradia”.
Os seis homens foram
aliciados em Manhuaçu por um dos sócios da Teixeira & Sena, que, de acordo
com depoimentos das vítimas, ofereceu oportunidade de trabalho na capital
mineira e prometeu alojamento e bons salários – entre R$ 2.500 e R$ 5 mil, ou
até R$ 120 a
diária.
Durante sete dias, os
trabalhadores realizaram serviços de pintura, gessamento de teto e instalações
elétricas no imóvel do bairro de Santo Antônio. A jornada se iniciava por volta
das 8hs e se estendia até 22hs ou 23hs.
A partir de 11 de março,
eles foram levados pelo mesmo sócio da Teixeira & Sena para a obra da MRV
em Contagem. A construtora realizou o exame admissional dos trabalhadores, mas
não assinou suas carteiras de trabalho. Além disso, a jornada tampouco era
controlada.
Vínculo empregatício
As duas empresas possuíam
contrato de prestação de serviços. Sob esse pretexto, a MRV tentou jogar para a
Teixeira & Sena a responsabilidade pelo vínculo empregatício das vítimas.
No entanto, segundo a SRTE-MG, ao não tomar os cuidados mínimos necessários e
permitir que elas trabalhassem em sua obra nas condições encontradas, a
construtora atraiu para si tal responsabilidade. Além disso, a fiscalização
apurou que a execução das atividades era controlada por funcionários da MRV.
Diante das condições
encontradas no primeiro dia de fiscalização, a construtora providenciou a
estadia dos seis trabalhadores em uma pousada no centro de Belo Horizonte e a
garantia de todas as refeições. Os seis homens foram registrados e, no dia 20,
receberam as indenizações referentes às rescisões contratuais, transporte e
FGTS, além dos Requerimentos do Seguro-Desemprego do Trabalhador Resgatado,
emitidos pelo Ministério do Trabalho. Na mesma data, retornaram a sua cidade de
origem.
Entretanto, de acordo com o
que os trabalhadores relataram aos auditores fiscais e à 6ª Delegacia Regional
de Polícia Civil de Manhuaçu, quando ainda estavam na rodoviária da capital
mineira eles foram abordados por funcionários da MRV, que lhe pediram que
assinassem um documento que comprovasse que haviam recebido Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs) no começo do trabalho para a empresa.
Segundo a SRTE-MG, em 25 de
março a construtora apresentou tais comprovantes; confrontada com as
declarações dos trabalhadores, a MRV, após negativas iniciais, admitiu que de
fato houve a coleta de assinaturas na rodoviária, pois estas não haviam sido
obtidas no momento apropriado. Em seus esclarecimentos à reportagem, a
construtora afirma que a entrega dos EPIs “foi feita por engenheira da MRV e
poderá ser devidamente comprovada pelos meios adequados”.
“Sobre a denúncia por uso de
trabalhadores em condições análogas às de escravo, informamos que se trata de
denúncia desprovida de fundamento. Aliás, surpreende-nos a iniciativa da
SRTE/MG em promover tão grave denúncia contra a MRV, considerando que nunca houve
visita da fiscalização ao canteiro de obras da Rua Joaquim José durante a
execução dos serviços de pintura de calçada.
Ainda, no que tange à
alegação de alojamento em condições inadequadas, importa informar que todos os
alojamentos de empreiteiros prestadores de serviços da MRV são rigorosamente
vistoriados pela mesma. O imóvel que foi fiscalizado pela equipe da SRTE/MG,
onde residiam os 6 trabalhadores da empreiteira Teixeira e Sena Ltda, está
situado na zona sul de Belo Horizonte, possui 3 dormitórios, banheiro, cozinha
e condições adequadas de moradia para qualquer cidadão.
Sobre a denúncia de não
fornecimento de EPI aos trabalhadores da empreiteira Teixeira e Sena Ltda.,
reiteramos que a prática da MRV é de cumprimento integral da norma que prevê a
entrega de equipamento de proteção aos seus trabalhadores próprios e de
terceiros. Ainda, que a entrega dos EPIs aos trabalhadores da citada
empreiteira foi feita por engenheira da MRV e poderá ser devidamente comprovada
pelos meios adequados”.
Fonte: Repórter Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário