A Comissão de Direitos
Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais promoveu um amplo debate na
manhã desta segunda-feira (10) sobre a terceirização sem limites proposta pelo
Projeto de Lei Federal nº 4.330/2004, de autoria do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO).
Durante o debate, que contou
com a participação de representantes da CTB Minas, CUT-MG, Nova Central, Força
Sindical, CSP Conlutas, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério Público do
Trabalho, parlamentares, sindicatos, entre outros, os presentes foram unânimes
em reconhecer que o Projeto de Lei 4.330/2004 representa um retrocesso que
poderá resultar em sérios prejuízos aos trabalhadores e trabalhadoras caso seja
aprovado pelo Congresso Nacional.
O procurador-chefe do
Ministério Público, Hélder Santos Amorim, destacou que a proposição que tramita
no Congresso Nacional, e que será apreciada na Comissão de Constituição e
Justiça nesta terça-feira (11), é uma forte ameaça legislativa de alargamento
da terceirização a níveis inaceitáveis e inconstitucionais.
Segundo ele, as
consequências da aprovação do projeto são negativas para as relações de
trabalho. “A Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) diz que a
terceirização deve ser usada apenas em atividades-meio, mas a matéria quer ampliar
este artifício para as atividades finalísticas. Estamos diante de uma ameaça
aos direitos dos trabalhadores conquistados ao longo de décadas”, alertou.
O superintendente Regional
do Ministério Público do Trabalho e Emprego, Valmar Gonçalves Sousa, disse que
a pasta criou um grupo de discussão para chegar a um consenso sobre o que o
projeto pretende. Em sua participação, ele disse ser a favor da terceirização,
desde que feita com dignidade para o trabalhador. “Somos contra a precarização
das relações trabalhistas, portanto o momento é importante para que seja feita
a negociação”, afirmou.
Contramão
Na opinião do presidente da
CTB Minas, Marcelino da Rocha (foto), o Projeto de Lei do deputado Sandro
Mabel, um dos empresários mais poderosos e influentes do Congresso, vem na
contramão dos interesses dos trabalhadores, que têm sido “massacrados” com
perdas de direitos.
“A terceirização tem
prejudicado aos trabalhadores de todas as categorias, como vigilantes,
eletricitários, trabalhadores da construção civil, servidores públicos e
metalúrgicos, a exemplo dos trabalhadores da Proema Minas, que estão aqui hoje
neste debate na luta pelos seus direitos. Estes trabalhadores, alguns com até
20 anos de casa, simbolizam bem a tarefa que as entidades e os parlamentares têm
pela frente. Ou seja, temos que valorizar quem faz a grandeza desse País”,
afirmou.
Segundo o presidente da CTB,
Minas não vai se calar diante das atrocidades que vêm ocorrendo contra os
trabalhadores do Estado e do Brasil. “Tenho certeza que os homens e mulheres de
bem não deixarão que isso aconteça”.
Mapa
Para garantir o apoio da
bancada mineira no Congresso contra o Projeto de Lei da Terceirização, a
presidenta da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, disse que a entidade já iniciou um diálogo
com os deputados. Também será feito um mapa com os nomes de quem defende e de quem
é contra o projeto. “Vamos para as praças e ruas mostrar à população quem são
os parlamentares contrários aos trabalhadores e que não merecem nosso voto em 2014” .
Beatriz Cerqueira, que
considera o projeto “nefasto”, disse que a terceirização tem sido usada pela administração
pública como mecanismo de caixa 2, para pagamento de contas sem licitação pública
e para a prestação de serviços sem qualidade. “Em Minas, quase 5% dos trabalhadores
que prestam serviços no Estado são terceirizados. Isso é precarização das relações
de trabalho”.
O auditor fiscal do
Ministério do Trabalho e Emprego, Marcelo Gonçalves Campos, também se disse
radicalmente contra a aprovação do projeto. Segundo ele, suas determinações vão
impactar diretamente no salário dos trabalhadores, assim como em todos os
direitos conquistados ao longo do tempo.
Superexploração
Em sua participação, ele
afirmou que o que se propõe com a matéria é tornar legal tudo aquilo que a Súmula
331 do TST proíbe. “O cenário é de superexploração do trabalhador. Se isso se
tornar lei, não teremos mecanismos legais para impedir que as relações sejam
ainda mais precarizadas”, lamentou.
Nesta terça-feira, as
centrais pretendem fazer uma grande mobilização em Brasília para pressionar os
deputados federais a votarem contra o Projeto 4.330/2004 e a assinarem um
abaixo-assinado. Presente no debate, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB) foi
uma das primeiras parlamentares da bancada mineira no Congresso Nacional a
assinar a lista.
Vistas
Segundo Jô Moraes (foto),
amanhã o projeto será apreciado na Câmara pela primeira vez. Para que as
centrais e sindicatos tenham mais tempo para mobilizar os trabalhadores, Jô
Moraes disse que vai pedir vistas à propositura. “O momento é de dizermos não à
aprovação do projeto e sua apreciação pela Comissão de Constituição e Justiça.
Se não gritarmos pelos direitos dos trabalhadores, estaremos sempre perdendo”,
alertou.
O deputado estadual Celinho
do Sinttrocel (PCdoB) convocou os sindicalistas e a sociedade para que se
mobilizem contra a aprovação da matéria. Para ele, o projeto não tem nenhum
interesse para a classe trabalhista, sendo apenas uma forma de beneficiar ainda
mais o empresariado. “Hoje, a terceirização já é nociva. Se esta proposta se
tornar lei até a mortalidade dos trabalhadores irá aumentar. Temos que unir
forças para evitar que isso aconteça”, salientou.
Por fim, o presidente da
Comissão de Direitos Humanos, Durval Ângelo (PT), informou que a Comissão de
Direitos Humanos vai enviar à presidente Dilma, ao ministro do Trabalho e aos
deputados federais e senadores por Minas
Gerais as notas taquigráficas do debate com a posição contrária dos
participantes.
Por sugestão da procuradora
do Ministério do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Sônia Toledo Gonçalves, o
documento também será enviado à 112ª Conferência do Trabalho da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que está sendo realizada em Genebra, na Suíça.
“O objetivo é alertar a OIT sobre os prejuízos que o projeto de lei poderá
causar aos trabalhadores brasileiros e as convenções internacionais das quais o
Brasil é signatário”, disse.
Proema
O debate também foi
acompanhado por dezenas de trabalhadores da metalúrgica Proema Minas (foto),
uma das principais fornecedoras da Fiat Automóveis em Betim. Afundada em
irregularidades trabalhistas e fiscais, há quatro meses a empresa colocou
centenas de empregados à disposição em casa, muitos deles sem receber salários.
Outros foram demitidos sem assinar aviso prévio e não receberam as verbas
rescisórias.
Fonte: CTB Minas.
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