A Lei Maria da Penha não
teve impacto sobre a quantidade de mulheres mortas em decorrência de violência
doméstica, segundo constatou um estudo sobre feminicídio, divulgado nesta
quarta-feira (25) pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), na
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, em Brasília.
De acordo com os dados,
entre 2001 e 2006, período anterior à lei, foram mortas, em média, 5,28
mulheres a cada 100 mil. No período posterior, entre 2007 e 2011, foram vítimas
de feminicídio, em média, 5,22 mulheres a cada 100 mil.
Inimigo íntimo
O feminicídio é o homicídio
de mulheres em decorrência de conflitos de gênero, geralmente cometidos por um
homem, parceiro ou ex-parceiro da vítima. Esse tipo de crime costuma implicar
situações de abuso, ameaças, intimidação e violência sexual.
Entre 2001 e 2011, estima-se
que cerca de 50 mil crimes desse tipo tenham ocorrido no Brasil, dos quais 50%
com o uso de armas de fogo. O Ipea também constatou que 29% desses óbitos
ocorreram na casa da vítima – o que reforça o perfil das mortes como casos de
violência doméstica.
Para o Ipea, o decréscimo em
dez anos é “sutil” e demonstra a necessidade da adoção de outras medidas
voltadas ao enfrentamento da violência contra a mulher, à proteção das vítimas
e à redução das desigualdades de gênero.
Ineficiência do Estado
Para a secretária nacional da
Mulher Trabalhadora da CTB, Ivania Pereira, a lei não conseguiu reduzir os
casos de homicídio por duas questões fundamentais: primeiro pelo crescimento
dos registros, em função da identificação e tipificação dos casos de
violência contra a mulher, e segundo, pela ineficiência do Estado, que não
dispõe de equipamentos sociais que protejam as mulheres em situação de risco.
“Existe uma deficiência
muito grande que se traduz em ausência de pessoal especializado nas delegacias
para fazer o atendimento às mulheres, falta de investigação das denuncias,
falta de casas abrigo para acolher as mulheres evitando que as mesmas voltem ao
convívio com o agressor e principalmente, falta de rigor na aplicação da lei,
ou seja, punição do agressor, pois o pagamento da fiança garante o retorno
ao convívio com a vitima, tornando- as mais vulneráveis”, destacou a dirigente.
Mapa da violência
Em relação ao perfil das
principais vítimas de feminicídio, o Ipea constatou que elas são mulheres
jovens e negras. Do total, 31% das vítimas têm entre 20 e 29 anos e 61% são
negras. No Nordeste, o percentual de mulheres negras mortas chega a 87%; no
Norte, a 83%.
Entre os estados
brasileiros, o Espírito Santo é o que mais registrou assassinatos de mulheres
entre 2009 e 2011, 11,24 a
cada 100 mil – muito superior à média brasileira no mesmo período. Em seguida,
outros estados com alta incidência de homicídios de mulheres foram a Bahia
(9,08), Alagoas (8,84) e Roraima (8,51).
Em contrapartida, os estados
com a incidência mais baixa foram Piauí (2,71), Santa Catarina (3,28), São
Paulo (3,74) e Maranhão (4,63). No caso do Piauí e do Maranhão, o Ipea estima
que a baixa incidência seja decorrente da deficiência de registro.
Fonte: Portal CTB.
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