O debate em torno da terceirização deverá ganhar novos contornos nos próximos
meses no Congresso Nacional. Primeiro porque as centrais sindicais – CTB, CUT,
UGT, Nova Central e CGTB – se posicionaram contra o substitutivo que está em
discussão na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. E também porque há
indicativos de que o governo, até então aparentemente distante, possa entrar
nesse debate.
Unitariamente, as cinco
entidades divulgaram carta aberta em que claramente se manifestam “contra a
proposta de regulamentação da terceirização, contida no relatório final do
deputado Arthur Maia (PMDB-BA) ao substitutivo do Projeto de Lei 4.330/2004, do
deputado Sandro Mabel (PMDB-GO)”.
Quando o debate sobre o tema
ainda estava na comissão especial criada no âmbito da Câmara, as centrais se
dividiram e o substitutivo apresentado pelo deputado Roberto Santiago (PSD-SP),
então relator da matéria, foi aprovado.
Na carta, as centrais
enumeram que, nas “últimas décadas”, o crescimento da terceirização resultou
para as relações de trabalho: “Grande precarização das condições de trabalho,
com aumento das situações de risco e do número de acidentes e doenças, devido
ao desrespeito às normas de saúde e segurança, baixos níveis salariais,
ampliação das jornadas de trabalho, crescimento da rotatividade e inadimplência
de direitos trabalhistas”.
E segue: “Ao contrário do
que é amplamente divulgado pelos que são diretamente interessados, a
terceirização não gera emprego nem garante a alocação de mão de obra especializada”.
Terceirização geral
O parecer do deputado Arthur
Maia (PMDB-BA), “além de liberar a terceirização para todos os tipos de
atividades das empresas, não estabelece a responsabilidade solidária das
empresas contratantes e não garante a isonomia de direitos e das condições de
trabalho dos terceirizados”, aponta.
O substitutivo apresentado
pelo deputado Arthur Maia libera a terceirização para a atividade-fim da
empresa e também não determina a relação de solidariedade entre os
terceirizados e a contratante, o que garantiria que se a contratada (empresa)
não pagasse os trabalhadores a contratante assumiria a responsabilidade.
Em lugar da responsabilidade
solidária, o relator propôs uma regra de transição, que consiste na
transformação de subsidiária em solidária, se a empresa contratada não
fiscalizar o cumprimento dos deveres previdenciários e trabalhistas conforme
estabelecido na lei.
Com este conteúdo, as
centrais sindicais não esperam, caso o projeto seja aprovado pelo Congresso,
que as condições de trabalho dos terceirizados do campo e da cidade, do setor
público e o da iniciativa privada irão melhorar. Pelo contrário, entendem “que
se agravará com a regulamentação do PL 4.330/2004”.
Proposta das centrais
Ao final da carta, as
centrais lembram que “construíram unitariamente [uma proposta] para
regulamentação da terceirização, a qual foi consolidada em um projeto de lei no
ano de 2009 e encaminhada para o governo federal. Contudo, o projeto de lei [anteprojeto]
foi engavetado”.
As entidades pedem o resgate
dessa proposta e reivindicam um texto que ao mesmo tempo em que “garanta
‘segurança jurídica às empresas’ deve também garantir ‘segurança social’ aos
trabalhadores e estar assentado na isonomia de direitos, de salário e de
tratamento dos terceirizados”.
Tramitação
O PL 4.330/04, que está em
discussão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em regime
terminativo, recebeu parecer, com substitutivo favorável do relator, deputado
Arthur Maia (PMDB-BA). Foram apresentadas ao texto 121 emendas, que o relator
agora examina.
Caso o projeto seja
chancelado na CCJ poderá ir direto ao exame do Senado, tendo em vista que as
demais comissões (Desenvolvimento Econômico e Trabalho) já o aprovaram. Caso
isto ocorra ainda caberá recurso contra a decisão da CCJ para que a matéria
seja examinada pelo plenário da Câmara.
O projeto segue curso rápido
e contrário aos interesses dos trabalhadores. Assim, é preciso que as entidades
sindicais se mobilizem na Câmara para evitar que uma derrota nesta matéria se
concretize.
Fonte: Marcos Verlaine - Jornalista e assessor
técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).
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