Por Marcelino da Rocha*
Chocante a tragédia da população
de Detroit (EUA), cuja cidade foi o espelho da indústria automobilística do mundo.
O raio-x atual da cidade americana deveria estremecer os defensores da ideologia
reformista, para que não pairem dúvidas de que o capitalismo está aí e vive sob
a lógica mais perversa e irracional do tudo pelo lucro e nada para o povo.
Em 18 de julho deste ano, o
decreto de falência econômica da cidade, diante de uma dívida que, de acordo
com o New York Times, varia entre 18 e 20 bilhões de dólares, simbolizou o caos
financeiro.
Ainda assim, em 2009, o governo
de Barack Obama despejou altas quantias de dólares exatamente em duas das
maiores companhias mundiais de produção de carros (General Motors e Chrysler),
ignorando a situação de bancarrota da cidade de Detroit.
É bom lembrar que as consequências
vêm se desdobrando e se confirmando e que a exploração tem lado e classe a ser
vilipendiada. Dos 1,8 milhões de habitantes em 1950, restam em torno de 700 mil
habitantes. São 78 mil prédios vazios e/ou abandonados, ruas sem iluminação,
calote de 40 milhões de dólares ao fundo de pensões da cidade.
Passados três anos, a
população é constituída, em sua maioria, por negros (78,9%), enquanto no estado
de Michigan essa população (negra) representa apenas 14,2%. Quando há dinheiro
circulando em abundância, a população branca impera. Quando a crise chega e está
faltando tudo, a população é majoritariamente negra.
A violência também complementa
o quadro e os homicídios colocam Detroit como a mais violenta entre as 60
maiores cidades estadunidenses: são 47 homicídios a cada 100 mil habitantes (2006).
No Brasil, esses dados são
de 20,4 homicídios para cada 100 mil habitantes (Mapa da violência 2013). Em Detroit,
mais de 20% das famílias vivem abaixo da linha da pobreza. A média nacional dos
EUA é de 15%; a renda per capita das famílias norte-americanas, em média, é de
cerca de 47.511 dólares, enquanto em Detroit a renda per capta é de 14.717
dólares.
Esses dados entram em contraste
com os dados da maior economia do mundo, com um PIB de quase US$ 15 trilhões,
ou quase três vezes maior que a segunda maior do mundo, a China, com US$ 5,8
trilhões.
É fato que a conjuntura
atual traz desafios gigantescos aos trabalhadores em todos os continentes. Na
Ásia, em Dhaka, localizada em Bangladesh, em 2012, mais de 100 trabalhadores
morreram em um incêndio numa fábrica de roupas, a maioria mulheres.
Além disso, há registros
permanentes de trabalho infantil para as grandes empresas esportivas do mundo.
No Chile, em um supermercado, as trabalhadoras usavam fraldas descartáveis para
acabar com “tempo morto” de atendimento nos caixas. Na Europa, governos
pressionados pelo FMI reduzem salários pela metade (Grécia, Portugal, Itália,
por exemplo).
O desemprego recorde aumenta
o índice de suicídio entre jovens. Na África, com o trabalho escravo e
degradante, a expectativa de vida dos trabalhadores baixa para menos de 50 anos.
No Brasil, a agressividade e
o desejo de destruição da CLT por parte dos empresários – e que encontra eco em
dirigentes “desatentos” - com a sede do tudo pelo lucro, de preferência fácil, vai
aumentando o bombardeio sob o argumento da baixa produtividade, custos altos e
insegurança jurídica. Prova disso, é o Projeto de Lei 4.330/2004, que escancara
a terceirização e pode prejudicar milhões de trabalhadores.
É preciso muita atenção, ousadia
e luta para não inviabilizarmos este País, que tem grandes possibilidades de
desenvolvimento, e para valorizarmos o trabalho e os trabalhadores.
O imperialismo, símbolo da
guerra no mundo (EUA), não cuida dos interesses de seu povo. O que, então,
poderemos dizer dos interesses do povo mundo afora?
Toda solidariedade ao povo de Detroit e contra a bancarrota
do povo trabalhador brasileiro e do mundo.
* Presidente da CTB Minas e da Fitmetal.
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