Foi realizado nessa quinta-feira
(25), em Brumadinho, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH),
uma Audiência Pública convocada pelo deputado Estadual Celinho do Sintrocel
(PCdoB) que marcou o Dia Mundial das Vítimas de Acidente de Trabalho (28 de
abril) e também os três meses do rompimento da barragem da mineradora Vale, no
povoado de Córrego do Feijão. Até o momento, foram 232 mortes e
40 pessoas ainda continuam desaparecidas. Representantes das Centrais
Sindicais, entre elas a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em
Minas Gerais (CTB-MG), exigiram punição da Vale pelo crime cometido.
“Este foi o maior acidente de
trabalho já registado no Brasil. Pessoas perderam as suas histórias e estão sem
perspectivas. Não se trata de uma tragédia, e sim de um crime cometido pela
mineradora. A Vale deve ser culpada criminalmente pelas mortes, desde o dano
moral até o dano psicológico causado a centenas de pessoas”, afirmou a
presidenta CTB-MG, Valéria Morato.
Autor da audiência, o deputado
Estadual Celinho do Sintrocel (PCdoB) lembrou que a cada 15 segundos, um
trabalhador morre vítima de acidente de trabalho no mundo. Segundo ele, o
Brasil é o quarto colocado em número de acidentes fatais todos os anos. O
parlamentar destacou que foram registrados 549 mil acidentes no Brasil, em 2017,
com 2.096 mortes.
Sobre o crime cometido pela Vale
em Brumadinho, o deputado disse que a empresa ignorou as normas de segurança
(NR 22 e NR 18) vigentes.
“Como é que a empresa mantém um
refeitório abaixo de uma barragem? Isso contraria as normas de segurança e
revela que a Vale não aprendeu nada com a tragédia ocorrida na cidade de
Mariana”, disse ele.
Vale de lágrimas
Integrante da Comissão do
Departamento de Saúde do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade de Betim, Rogério
Djalma, chamou a atenção para o grande número de pessoas doentes na região após
o crime cometido pela Vale. Ele lembrou ainda os impactos no meio ambiente. O
rompimento da barragem despejou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de
mineração no Rio Paraopeba.
O senhor Antônio Paulourinho, de
70 anos, foi um dos atingidos após o rompimento da barragem no dia 25 de
janeiro. Nascido e criado na comunidade de Córrego do Feijão, ele diz que o
desastre acabou com a vida em Brumadinho.
“Tínhamos uma história bonita.
Hoje o Córrego do Feijão tornou-se um córrego de lama, lágrimas e dor”, resumiu
ele que perdeu uma sobrinha de 25 anos que trabalhava numa pousada da região e
dois primos que trabalhavam na Vale.
Também presente à audiência, Josiane
Melo lembrou da irmã que morreu, Eliane Melo, de 39 anos, que estava grávida de
cinco meses.
“Minha irmã era uma mulher forte
e guerreira que lutou para se formar em engenharia. E agora ela perdeu a vida
dessa forma. Uma mulher cheia de sonhos e projetos. A revolta é muito grande”,
disse ela.
Já Sirlene Dias de Souza, de 36 anos, que mora às
margens do Rio Paraopeba, disse que após o rompimento da barragem, o
comportamento dos seus três filhos adolescentes mudou e os casos de depressão
na região são comuns.
“O rio era a nossa fonte de vida. Toda Semana Santa eu
e meus filhos pescávamos no Paraopeba. Essa diversão não existe mais. Os meus
filhos estão mais agressivos e muitos moradores estão doentes. Minha vontade é
de ir embora daqui”.
Fotos: Anderson Pereira
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