26 de abr. de 2019

Centrais sindicais mineiras exigem punição da Vale após três meses do crime cometido pela mineradora em Brumadinho


Foi realizado nessa quinta-feira (25), em Brumadinho, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), uma Audiência Pública convocada pelo deputado Estadual Celinho do Sintrocel (PCdoB) que marcou o Dia Mundial das Vítimas de Acidente de Trabalho (28 de abril) e também os três meses do rompimento da barragem da mineradora Vale, no povoado de Córrego do Feijão. Até o momento, foram 232 mortes e 40 pessoas ainda continuam desaparecidas. Representantes das Centrais Sindicais, entre elas a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em Minas Gerais (CTB-MG), exigiram punição da Vale pelo crime cometido.

“Este foi o maior acidente de trabalho já registado no Brasil. Pessoas perderam as suas histórias e estão sem perspectivas. Não se trata de uma tragédia, e sim de um crime cometido pela mineradora. A Vale deve ser culpada criminalmente pelas mortes, desde o dano moral até o dano psicológico causado a centenas de pessoas”, afirmou a presidenta CTB-MG, Valéria Morato.

Autor da audiência, o deputado Estadual Celinho do Sintrocel (PCdoB) lembrou que a cada 15 segundos, um trabalhador morre vítima de acidente de trabalho no mundo. Segundo ele, o Brasil é o quarto colocado em número de acidentes fatais todos os anos. O parlamentar destacou que foram registrados 549 mil acidentes no Brasil, em 2017, com 2.096 mortes.

Sobre o crime cometido pela Vale em Brumadinho, o deputado disse que a empresa ignorou as normas de segurança (NR 22 e NR 18) vigentes.

“Como é que a empresa mantém um refeitório abaixo de uma barragem? Isso contraria as normas de segurança e revela que a Vale não aprendeu nada com a tragédia ocorrida na cidade de Mariana”, disse ele.

Vale de lágrimas

Integrante da Comissão do Departamento de Saúde do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade de Betim, Rogério Djalma, chamou a atenção para o grande número de pessoas doentes na região após o crime cometido pela Vale. Ele lembrou ainda os impactos no meio ambiente. O rompimento da barragem despejou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração no Rio Paraopeba.

O senhor Antônio Paulourinho, de 70 anos, foi um dos atingidos após o rompimento da barragem no dia 25 de janeiro. Nascido e criado na comunidade de Córrego do Feijão, ele diz que o desastre acabou com a vida em Brumadinho.

“Tínhamos uma história bonita. Hoje o Córrego do Feijão tornou-se um córrego de lama, lágrimas e dor”, resumiu ele que perdeu uma sobrinha de 25 anos que trabalhava numa pousada da região e dois primos que trabalhavam na Vale.

Também presente à audiência, Josiane Melo lembrou da irmã que morreu, Eliane Melo, de 39 anos, que estava grávida de cinco meses.

“Minha irmã era uma mulher forte e guerreira que lutou para se formar em engenharia. E agora ela perdeu a vida dessa forma. Uma mulher cheia de sonhos e projetos. A revolta é muito grande”, disse ela.

Já Sirlene Dias de Souza, de 36 anos, que mora às margens do Rio Paraopeba, disse que após o rompimento da barragem, o comportamento dos seus três filhos adolescentes mudou e os casos de depressão na região são comuns.

“O rio era a nossa fonte de vida. Toda Semana Santa eu e meus filhos pescávamos no Paraopeba. Essa diversão não existe mais. Os meus filhos estão mais agressivos e muitos moradores estão doentes. Minha vontade é de ir embora daqui”.

Fotos: Anderson Pereira














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