O
auditório do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) ficou pequeno
para a quantidade de pessoas que estiveram presentes no lançamento da Frente
Mineira pelo Brasil na noite da última sexta-feira (7). Resistir, lutar e
defender a democracia. Os participantes lembraram diversos momentos da história
em que a mobilização do povo foi necessária para barrar o fascismo e construir
a democracia. Outro destaque da noite foi a quantidade de entidades
representadas no ato. Movimentos sociais, sindicais, estudantis, do campo e da
cidade, se uniram para enfrentar as articulações de golpe e a onda
conservadora. Uma agenda unitária foi estabelecida com grande convocação para
protestos no dia 20 de agosto. A manifestação ocorre nacionalmente sob o tema
“Tomar as ruas por direitos, liberdade e democracia”.
Para
marcar o lançamento da Frente, foi convidado o teólogo Frei Leonardo Boff que
sinalizou para retomada das bandeiras que deram origem ao projeto popular do
governo. Ao lado de Leonardo Boff, compuseram a mesa de debate o
vice-presidente da CTB-Minas, José Antonio Lacerda, o Jota, a presidente da
CUT-MG, Betariz Cerqueira, o deputado estadual Rogério Correia (PT), a deputada
federal Jô Moraes (PCdoB) e o coordenador nacional do Movimento dos Atingidos
por Barragens (MAB), Joceli Andreolli.
Além
da reação ao golpe, os participantes defenderam mudanças estruturais para que a
esquerda no Brasil avance. Entre os pontos que unificam a frente ampla estão a
posição contraria a retiradas de direitos trabalhistas, representada no
Congresso Nacional pelo projeto de terceirização e o pacote de ajustes fiscais.
A
disputa internacional, com ataques estratégicos aos projetos nacionais como é o
caso da Petrobras também foram lembrados nas avaliações da conjuntura que
desmontam as práticas da direita golpista brasileira.
Como
parte das ações da Frente, será realizado em Belo Horizonte uma Conferência
Nacional da Frente Popular, nos dias 05 e 06 de setembro que deverá reunir
cerca de 5 mil pessoas.
Leia abaixo a carta
de lançamento da Frente Mineira pelo Brasil:
MINAS SE LEVANTA EM
DEFESA DO BRASIL
Carta de lançamento
da Frente Mineira pelo Brasil
Belo Horizonte, 7 de
agosto de 2015
Percebemos
em curso a restauração e alinhamento de um campo neoliberal antipopular e
antinacional, demarcado pelo Imperialismo e composto pela grande mídia, a
oligarquia financeira, líderes políticos conservadores e setores do judiciário.
Estes atacam os direitos sociais, os direitos dos trabalhadores e
trabalhadoras, à soberania nacional e orquestram pretextos artificiais para a
interrupção da legalidade democrática. Aproveitam-se para isto do
aprofundamento da crise econômica internacional e de erros cometidos por
setores democráticos e populares, entre os quais aqueles cometidos pelo governo
federal. A Frente Mineira pelo Brasil se posiciona convicta e firmemente contra
qualquer tentativa de golpear o Estado Democrático de Direito.
O
combate à corrupção é dever do Governo e de toda a sociedade, mas a operação
Lava-Jato não pode manter sua descarada seletividade, ou deixará de cumprir a
função de expor os desvios e promiscuidades estabelecidas entre o setor privado
e o Estado. Nesse sentido a Frente Mineira pelo Brasil chama atenção para que
no debate da reforma política seja privilegiado o debate do fim do
financiamento privado de campanhas eleitorais.
No
Congresso Nacional, o mais conservador e mais caro desde a abertura
democrática, busca-se a aprovação de uma contrarreforma política, a redução da
maioridade penal, a generalização da terceirização no trabalho e a alteração na
Lei de Partilha do Pré-Sal, onde se sedimenta os planos de privatização da Petrobrás,
a maior empresa do país.
Portanto,
não há governabilidade ou pacto possível no terreno antipopular capitaneado por
Eduardo Cunha!
O
braço ideológico e mobilizador do bloco conservador, a grande mídia, cultiva o
ódio entre o povo e dissemina o veneno a ser inoculado nas veias da Democracia.
Com isso, prepara palco para a naturalização das pretensões das elites
reacionárias e enfurecidas de retornarem ao poder central mesmo que para isso
precisem arrastar o país para o fundo do poço. A desfaçatez com que foi tratado
o ataque fascista ao Instituto Lula é sintomático da completa ausência de
compromisso democrático desta grande mídia.
Barrar
o golpismo, isolá-lo e derrota-lo é a missão urgente a ser enfrentada. Somente
uma ampla unidade será capaz de realizá-la. A Frente Mineira pelo Brasil se
coloca nesta trincheira.
Governabilidade
popular
Nos
últimos meses as organizações sociais do povo brasileiro deram uma poderosa
demonstração de que há muita energia para resistir e superar o avanço
conservador. As dezenas de atos e manifestações realizadas impediram que
retrocessos maiores acontecessem. Essa resistência indica o caminho a ser
perseguido no próximo período. O programa vitorioso em 2014 precisa ser
resgatado.
Não
é mais aceitável que 0,3% dos que declaram imposto de renda no Brasil detenham
22,7% da riqueza do país e que as grandes fortunas, heranças e o rentismo não
sejam taxados, especialmente em um momento de crise internacional em que a
conta é empurrada sobre a classe trabalhadora mundo afora.
A
democracia brasileira é amordaçada pelo poder do dinheiro privado na definição
das eleições e pelo monopólio dos meios de comunicação. As grandes cidades são
estranguladas pela especulação imobiliária e pelos oligopólios do transporte
público. O campo clama por uma reforma agrária popular. O extermínio dos jovens
pobres e negros nas periferias é o retrato mais dramático da necessidade de
construção de um vigoroso processo de lutas por avanços em direitos sociais,
econômicos, cultuais e políticos.
O
Brasil precisa construir um outro ciclo de desenvolvimento para atender as
históricas e as novas demandas de seu povo. Este ciclo deve almejar em seu
horizonte a realização de reformas democráticas e estruturais, ampliação de
direitos sociais, uma política econômica marcada pela geração de emprego,
distribuição de renda e fortalecimento da indústria nacional ao contrário da
política de juros altos vigentes. Este ciclo somente se abrirá e será vindouro
se for conduzido pela força social organizada de milhões de brasileiros.
Os
mineiros conheceram, combateram e derrotaram o projeto conservador que pretende
se restaurar no país. A reforma neoliberal do Estado batizada de Choque de
Gestão e conduzida por Aécio Neves foi a responsável por colocar Minas na pior
situação de sua história. A realidade ocultada por doze anos, mas amargada pelo
povo mineiro, veio à luz: elevação da dívida pública, precarização do
funcionalismo público e serviços públicos e fragilização da indústria, economia
e empresas públicas. Sem falar das denúncias de corrupção sistematicamente
blindadas pelo aparato conservador da grande mídia, Ministério Público,
Tribunal de Contas e demais órgãos de controle.
A
resposta do povo chegou nas eleições de 2014, o campo conservador perdeu em
Minas nos dois turnos e foram exemplarmente derrotados no primeiro turno da
eleição para o Governo Estadual. Conscientes de nossa responsabilidade nesse
momento do país, novamente nos embandeiramos de esperança e ousamos enfrentar o
conflito necessário.
A
história de nosso país é a história da luta de seu povo. A herança maior de
Minas para a construção da nação brasileira é o exemplo da luta do povo pela
Liberdade. É com este espírito, alicerçado nos interesses e lutas do povo
brasileiro, que nasce a Frente Mineira pelo Brasil.