Dezenas de milhões de
pessoas foram resgatadas da condição de extrema pobreza no Brasil desde a
eleição de Lula em 2002, graças às políticas de redistribuição de renda
instituídas pelo governo, com destaque para a valorização do salário mínimo e à
salutar expansão do mercado de trabalho.
O fenômeno é inegavelmente
positivo. Falsa, porém, é a interpretação que o caracteriza como a emergência
de uma nova classe média no Brasil, amplamente disseminada e vulgarizada pela
mídia nativa.
Num livro recente em que
refuta tal caracterização, o economista Marcio Pochmann mostra que a causa
principal da mobilidade social em tela foi a criação de 21 milhões de novos
postos de trabalho ao longo dos últimos 10 anos, sendo 94,8% deste total com
salários equivalentes até 1,5 mínimo.
O nível de desemprego, que
tinha subido a 20% no governo FHC, despencou. Mas não se pode falar com
seriedade em nova classe média. “Seja pelo nível de rendimento, seja pelo tipo
de ocupação, seja pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população
emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser
claramente identificados como classe média”, argumenta Pochmann. Trata-se, na
realidade, de classe trabalhadora - e de baixa remuneração.
Os dois conceitos conduzem a
estratégias políticas diferentes, uma vez que os interesses e objetivos
históricos da classe trabalhadora, reiterados a cada 1º de Maio, nem sempre
coincidem com os da classe média, apesar de não serem antagônicos.
Embora pareça inofensivo, o
falso conceito de classe média (que a mídia monopolista, como quem não quer
nada, procura transformar em senso comum), serve a um propósito ideológico e
político reacionário, que é o de incutir neste novo contingente de assalariados
a cultura do consumismo e do individualismo, tornando-os consumidores em vez de
cidadãos.
É uma operação ardilosa da
velha ideologia liberal-burguesa, hoje travestida de neoliberalismo, cujo
objetivo é obscurecer a identidade e a consciência de classe das trabalhadoras
e trabalhadores, afastando-os com isto da busca de soluções coletivas para
problemas sociais comuns, das lutas solidárias e das bandeiras classistas, que
desde sempre inspiraram e guiaram o movimento operário e sindical.
Podemos notar em tudo isto
um significado análogo ao do novo idioma que o patronato usa para caracterizar
o empregado, chamando-o de “parceiro” ou “colaborador”, como se já não
existisse a subordinação do trabalho ao capital (atestado pelos altos índices
de rotatividade) e o trabalhador tivesse sido alçado à condição de sócio da
empresa.
O sindicalismo classista
deve não só rechaçar o falso conceito em voga como também, e ao mesmo tempo,
procurar compreender com maior rigor científico o fenômeno social em questão,
de forma a abordar este novo contingente da classe trabalhadora com espírito
classista, visando sua conscientização, sindicalização e incorporação nas lutas
sociais.
Desta forma, daremos à
agenda da 2ª Conclat, por um novo projeto nacional de desenvolvimento com
soberania e valorização de trabalho, a energia e a força de amplas massas.
Wagner Gomes, presidente da CTB