29 de nov. de 2012

Wagner Gomes: A “nova classe média” e a velha ideologia burguesa


Dezenas de milhões de pessoas foram resgatadas da condição de extrema pobreza no Brasil desde a eleição de Lula em 2002, graças às políticas de redistribuição de renda instituídas pelo governo, com destaque para a valorização do salário mínimo e à salutar expansão do mercado de trabalho.
O fenômeno é inegavelmente positivo. Falsa, porém, é a interpretação que o caracteriza como a emergência de uma nova classe média no Brasil, amplamente disseminada e vulgarizada pela mídia nativa.
Num livro recente em que refuta tal caracterização, o economista Marcio Pochmann mostra que a causa principal da mobilidade social em tela foi a criação de 21 milhões de novos postos de trabalho ao longo dos últimos 10 anos, sendo 94,8% deste total com salários equivalentes até 1,5 mínimo.
O nível de desemprego, que tinha subido a 20% no governo FHC, despencou. Mas não se pode falar com seriedade em nova classe média. “Seja pelo nível de rendimento, seja pelo tipo de ocupação, seja pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média”, argumenta Pochmann. Trata-se, na realidade, de classe trabalhadora - e de baixa remuneração.
Os dois conceitos conduzem a estratégias políticas diferentes, uma vez que os interesses e objetivos históricos da classe trabalhadora, reiterados a cada 1º de Maio, nem sempre coincidem com os da classe média, apesar de não serem antagônicos.
Embora pareça inofensivo, o falso conceito de classe média (que a mídia monopolista, como quem não quer nada, procura transformar em senso comum), serve a um propósito ideológico e político reacionário, que é o de incutir neste novo contingente de assalariados a cultura do consumismo e do individualismo, tornando-os consumidores em vez de cidadãos.
É uma operação ardilosa da velha ideologia liberal-burguesa, hoje travestida de neoliberalismo, cujo objetivo é obscurecer a identidade e a consciência de classe das trabalhadoras e trabalhadores, afastando-os com isto da busca de soluções coletivas para problemas sociais comuns, das lutas solidárias e das bandeiras classistas, que desde sempre inspiraram e guiaram o movimento operário e sindical.
Podemos notar em tudo isto um significado análogo ao do novo idioma que o patronato usa para caracterizar o empregado, chamando-o de “parceiro” ou “colaborador”, como se já não existisse a subordinação do trabalho ao capital (atestado pelos altos índices de rotatividade) e o trabalhador tivesse sido alçado à condição de sócio da empresa.
O sindicalismo classista deve não só rechaçar o falso conceito em voga como também, e ao mesmo tempo, procurar compreender com maior rigor científico o fenômeno social em questão, de forma a abordar este novo contingente da classe trabalhadora com espírito classista, visando sua conscientização, sindicalização e incorporação nas lutas sociais.
Desta forma, daremos à agenda da 2ª Conclat, por um novo projeto nacional de desenvolvimento com soberania e valorização de trabalho, a energia e a força de amplas massas.
Wagner Gomes, presidente da CTB

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