O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (13), durante o lançamento do livro 10 anos de
governos pós-neoliberais no Brasil, que sempre teve consciência de que era
possível fazer as coisas acontecerem e que havia sido eleito para governar para
todos.
Lula disse que entre tantas
coisas boas que aconteceram ao longo de seu governo, o grande legado que deixou
foi mostrar que “era possível governar de forma republicana sem odiar aqueles
que me odiavam”.
Com ironia, Lula falou do
que chamou de loucura de algumas pessoas que com apenas três meses diziam que o
seu governo tinha acabado. “Eu falava: mas eu nem comecei e o cara já diz que
eu acabei. Os apressados escreveram muita coisa contra o governo e o PT e eu
sempre tive paciência de que somente o tempo iria se encarregar de colocar as
coisas no lugar”.
Lula falou ainda dos ataques
e da rejeição que sofreu da elite política e da imprensa brasileira
conservadora do país por causa do sucesso de seu governo.
“Se eu fracassasse, eles
falariam: ‘coitadinho do operário, chegou lá, mas não tem culpa, não tava
preparado, não veio da nossa escola’. Quando começamos a ter sucesso, começaram
a fugir da crítica política e ideológica para o ódio de classe, coisa que nunca
alimentei. Eu tinha a consciência de que tinha sido eleito para governar para
todo mundo”.
Citando as mais de 70
conferências nacionais promovidas em seus dois mandatos, ele lembrou que o
Palácio do Planalto deixou de ser apenas um lugar para “reis e rainhas,
banqueiros e grandes empresários”, e se tornou também em espaço de “índios,
sem-tetos, favelados e moradores de rua”.
Ele assegurou que
participará ativamente das eleições de 2014. “Sou cabo eleitoral, estarei nas
ruas 24 horas por dia.” Lula encerrou sua intervenção convidando os jovens a
participarem da política.
“Depois da política é só a
desgraça. O político ideal que você deseja, aquele cara sabido, probo,
irretocável do ponto de vista do comportamento ético e moral, aquele político
que a imprensa vende que existe, mas que não existe, quem sabe esteja dentro de
vocês. Então, nos momentos mais difíceis, ao invés de vocês desistirem, assumam
a política para vocês e mudem o que vocês quiserem”.
Nos próximos dias, Lula
viajará para a Argentina, aonde irá se
reunir com a presidenta Cristina Kirchiner. Ainda na capital portenha, o
ex-presidente brasileiro receberá, de uma única vez, oito títulos de Doutor
Honoris Causa. Posteriormente, irá se reunir com intelectuais para discutir a
questão da integração da América Latina, que segundo ele, deve “ser levada mais
a sério”.
Reflexões
O sociólogo Emir Sader,
organizador da obra, disse que as marcas dos governos do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff estão nas dimensões das
transformações promovidas por eles, a durabilidade dessas ações e o resgate da
histórica dívida social.
O livro, lançado pela
editora Boitempo, abriga uma coletânea de 21 reflexões de alguns dos mais
destacados pensadores brasileiros, como Marilena Chauí, Marco Aurélio Garcia,
Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, José Luis Fiori, Luis Pinguelli Rosa e
Paulo Vannuchi.
A obra traz reflexões
sobre as mudanças vivenciadas no país nos últimos 10 anos e as projeções para o
futuro brasileiro. Ainda segundo Sader, o livro é “um instrumento de
atualização da prática política e de reflexão necessária para a superação
definitiva do neoliberalismo no Brasil”.
O economista e presidente da
Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, falou da felicidade de olhar para os
últimos 10 anos e ver como os governos Lula e Dilma inverteram as prioridades.
Ele ressaltou a “coragem e ousadia” de “começar distribuindo”, em vez de “primeiro
crescer para depois distribuir”.
Para a professora de
Filosofia Marilena Chauí o Brasil vivenciou na última década uma “revolução
social”. Ela pontuou entre as mais importantes mudanças da última década os
efeitos do Programa Bolsa Família para as mulheres e na “constituição da
sociedade brasileira” e o significado do ProUni, do Enem e das cotas em
universidades públicas.
'Nova classe média'
Marilena criticou ainda o
conceito da “nova classe média” e afirmou que o Brasil possui hoje uma nova
classe trabalhadora resultado das políticas econômicas contra o neoliberalismo.
“Ela é o resultado da maneira pela qual a política econômica se voltou não só
para a questão do emprego e dos direitos econômicos e sociais, mas se voltou
também para a necessidade de repor uma nova classe trabalhadora. A classe não
mudou de lugar: ela apenas conquistou seus direitos”.
“O fato de termos uma nova
relação da classe trabalhadora com o universo do consumo de massa, com os
direitos sociais, econômicos, de serviços e culturais, não significa uma nova
classe média. E por que eu defendo esse ponto de vista? Não é só por razões
teóricas e políticas. É por que eu odeio a classe média. A classe média é um
atraso de vida, é a estupidez. Reacionária, conservadora, ignorante, petulante,
arrogante, terrorista. Os trabalhadores brasileiros galgaram e conquistaram
direitos. Foram 20 anos de luta, fora os 500 anos anteriores de luta e
desespero. E dizer que essas lutas e essas conquistas fizeram a gente virar
classe média. De jeito nenhum. A classe média é uma abominação política”.
Fonte: Portal Vermelho.
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