O auxílio financeiro dado às
famílias em situação de extrema pobreza pelo Programa Bolsa Família não
desestimula os favorecidos a buscar emprego ou a se tornar empreendedores. A
conclusão é de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), após análise do microempreendedorismo brasileiro. “O Bolsa Família não
produz o chamado efeito preguiça ou de acomodação. Prova disso é que boa parte
dos beneficiados é empreendedora e está formalizada”, disse Rafael Moreira.
Ele é um dos pesquisadores
do Sebrae e do Ipea sobre o microempreendedor individual – pessoa que trabalha
por conta própria, que se legaliza como pequeno empresário de um negócio com
faturamento máximo de R$ 60 mil por ano. Este tipo de empreendedor tem no
máximo um empregado contratado, recebendo salário mínimo ou o piso da
categoria.
A publicação “Radar”,
divulgada no último dia 7 pelo Ipea, relata que 7% dos empresários
individuais são também beneficiados pelo Bolsa Família. Além disso, 38% do
público-alvo do programa são trabalhadores por conta própria, formalizados ou
não. “Em geral, o Bolsa Família não diminui a oferta de mão de obra”, garantiu
Moreira.
Segundo Mauro Oddo, outro
colaborador do estudo, as microempresas representam 99% das empresas do país e
são responsáveis por 51% de todos empregos existentes. “Isso mostra que o país
não vai se desenvolver enquanto as diferenças entre a realidade monetária e a
quantitativa for tão grande. As empresas [de menor porte] têm um grande peso
para a economia. Não dá para entender o país sem entender o que são elas”,
argumentou o pesquisador.
Ministro da Secretaria de
Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e presidente do Ipea,
Marcelo Neri disse que entre as conclusões mais relevantes que se podem tirar
do estudo está a de que metade de trabalhadores informais, como camelôs, se
formalizarou. “Essa é uma cena interessante e surpreendente. Ninguém esperava
isso dez anos atrás”, disse. “Hoje entendemos que trabalhadores muitas vezes
são pequenas empresas. Em geral, são capitalistas sem capital”.
Segundo o estudo apresentado
pelo pesquisador João de Oliveira – sobre a ampliação da base formal do emprego
–, metade dos empresários individuais tem como origem o mundo informal. Além
disso, metade do grupo [ou seja, um quarto do total] iniciou seus negócios “não
por oportunidade, mas por necessidade, após serem demitidos”.
Oliveira explica que o
microempreendedor individual tem um perfil de menor escolaridade (49,4% têm no
máximo ensino médio completo) e renda mais baixa. Ele apresentou estimativas
indicando que atualmente deve haver 3 milhões deles participando da economia
brasileira. Há, ainda, outros 6,12 milhões de pequenas e microempresas no país.
Fonte: Agência Brasil.
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