Criado em 1955 a partir do inconformismo de alguns dirigentes sindicais com os índices oficiais de inflação, o Departamento Sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) está próximo de concretizar um antigo sonho: a criação de uma escola de nível superior de Ciências do Trabalho. "Estamos abrindo um campo novo de conhecimento", afirmou em entrevista ao programa de rádio Jornal Rádio Brasil Atual o coordenador de Educação do Dieese, Nelson Karam. A primeira turma deve ser formada no primeiro semestre de 2011.
Da década de 1970 para a de 1980, com a retomada da atividade sindical, acompanhando a abertura política, também se percebeu a necessidade de investir na formação e na qualificação dos dirigentes. As negociações trabalhistas exigiam, além da mobilização nos locais de trabalho, cada vez mais conhecimento técnico. Para isso, o Dieese criou o Programa de Capacitação em Negociação (PCN). O coordenador de Educação lembra que o desenvolvimento da formação "estava no DNA" do instituto.
"Já havia uma aposta do movimento sindical de criar um espaço regular de formação. Quando o Dieese completou 50 anos (em 2005), essa ideia foi recuperada", lembra Karam. Assim, no início deste ano o Dieese conseguiu a aprovação inicial do Ministério da Educação para credenciar a escola. Agora, falta a liberação do curso de Ciências do Trabalho. O técnico lembra que o objetivo é buscar algo diferente do atual padrão do nível superior, algo mais voltado para a realidade dos trabalhadores.
Com isso, coloca-se em debate uma nova visão sobre o trabalho. Karam lembra que, não muito tempo atrás, falava-se no fim do trabalho assalariado, formal. "Nós caminhamos na contramão dessa visão e agora, com a escola, estamos reafirmando a visão que o trabalho está no centro da sociedade", afirma Ele acrescenta que hoje existe muita produção sobre o mundo do trabalho, por meio de parcerias no meio acadêmico, como o Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Universidade de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo.
"O que estamos propugnando nesse momento é ousar na criação de um campo de conhecimento. O MEC não reconhece nenhuma diretriz curricular na área de Ciências do Trabalho", observa Karam. Segundo ele, o curso irá reunir num mesmo espaço de reflexão temas como Ciências Sociais, Economia, Sociologia, Antropologia e Direito, com "recorte de uma visão de determinado segmento da sociedade".
A escola vai funcionar em um prédio da União (cedido ao empreendimento por dez anos) na rua Aurora, região central de São Paulo. "Estamos aguardando essa nova comissão do MEC para autorizar a liberação do curso, um bacharelado de três anos de duração", diz Karam. O primeiro curso, previsto para o primeiro semestre de 2011, terá inicialmente 40 vagas, apenas de graduação. "A ideia é começar com o pé no chão", explica o coordenador. "É um aprendizado institucional importante também para o Dieese." A estratégia de expansão poderá incluir parcerias estaduais, principalmente com universidades públicas, para oferecer o curso em outros locais. E espalhar o conhecimento, sempre do ponto de vista dos trabalhadores.
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