10 de dez. de 2010

Professor, profissão de risco


Entrevista com Gilson Reis, presidente da CTB Minas


O Sinpro Minas (Sindicato dos Professores do estado de Minas Gerais) anunciou hoje que vai lançar um movimento pela paz nas escolas. A decisão é uma das respostas ao assassinato de Kássio Vinicius Castro Gomes, Professor do Instituto Isabela Hendrix, na última terça-feira, dia 7. Ele foi morto por um estudante do 5º período do curso de Educação Física. A defesa do aluno alega que ele tem quadro de sofrimento mental grave. O presidente da CTB Minas e do Sinpro, Gilson Reis, concedeu a entrevista um dia após o crime. Ele destacou que, em 2009, a pesquisa O trabalho e o agravo à saúde do professor da rede privada de ensino de Minas Gerais já apontava o motivo dessa fatalidade: 41% dos professores já sofreram agressões físicas ou verbais dentro da escola. A pesquisa foi realizada em parceria com o Ministério do Trabalho, através da Fundacentro, Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Fitee) e Sindicato dos Auxiliares da Administração Escolar de Minas Gerais (Saae-MG).


Desde quando o Sinpro nota que a violência é um fenômeno dentro das escolas?

Há muito tempo o Sinpro vem observando a crescente manifestação de violência nas escolas privadas, reproduzida pelos nossos professores nas relações do cotidiano. Isso levou a uma situação de tamanha envergadura, que o Sindicato, no ano passado, realizou uma pesquisa onde tivemos a condição de, forma científica, ir ao interior da escola e avaliar. Os dados comprovaram o que a gente já vinha acompanhando: a violência existe, mas infelizmente não é tratada. Esse é um problema que a gente discute desde o ano passado, e até hoje não conseguirmos criar mecanismos de tratar isso com a sociedade, escolas, com os órgãos competentes, no sentido de, se não resolver completamente, pelo menos parcialmente buscar soluções desse nível de agressividade e violência no interior das escolas privadas.
Que tipo de violência os professores mais relatam?

Desde a violência verbal até a consumação de violência física. Há toda uma estratificação de violência como roubo, tráfico de drogas, enfim tudo aquilo que nós também convivemos na sociedade. A escola é parte da sociedade e também reproduz o que observamos nela. O que nos preocupa é que a escola devia ser parte da solução dos problemas da sociedade, porque é no espaço escolar que existe a possibilidade de a gente discutir esses fenômenos e buscar soluções. Então a escola, além de não resolver o seu problema de violência, não contribui para a discussão do conjunto da sociedade. Nesse sentido, ela erra duas vezes.

Com esses casos de roubo, tráfico e constantes agressões físicas, nós estamos falando da violência nas escolas privadas?

Nas escolas privadas. É o que aponta a nossa pesquisa, que traz de forma bastante ampla e aprofundada todas as formas de violência, percentuais, como isso ocorre, as formas de tratamento inexistentes. Enfim, é uma pesquisa bastante completa e precisa ser colocada em evidência. Infelizmente, quando nós anunciamos essa pesquisa há um ano, ela foi considerada algo de sindicalistas, de pessoas que só querem tumultuar, não querem discutir. Mas acho que agora, com essa fatalidade, a banalização da violência chegou ao limite. Penso que a sociedade como um todo, juntamente com o Sindicato, professores, pais e alunos precisam se sentar à mesa para discutir a situação. Não é possível mais a gente tratar o assunto como se ele não existisse, julgando os problemas para debaixo do tapete.

E a violência na escola acontece mais na capital, interior ou a gente pode dizer que é um fenômeno generalizado?

É um fenômeno generalizado. A pesquisa foi feita no estado todo, e violência não tem um local. Evidente, é um problema social também, porque a violência é muito falada nas escolas da periferia, escolas públicas, e o fenômeno ocorre também nas escolas da zona Sul de Belo Horizonte. Porque a violência também está presente lá, como está presente na periferia. E essa que é a questão, nós precisamos debater o assunto e buscar compreender o fenômeno, e intervir para poder buscar soluções imediatas e de médio prazo.

O Sinpro já tinha conhecimento de outro caso de morte de professor ou agresssão física tão forte por parte do aluno?

Óbito é a primeira vez, agora agressões físicas várias vezes tivemos denúncias, encaminhamos, discutimos, (abrimos) ações na Justiça. Nós já vínhamos observando isso ao longo do último período. E a morte desse professor de forma brutal, completamente banal, também é a morte da educação. Por isso que nós precisamos discutir esse assunto. Essa situação não pode ficar meramente no problema criminal ou na esfera da Justiça, ela é muito mais do que isso. Aconteceu no interior da escola um mestre, doutorando, uma pessoa comprometida com a educação, o diálogo e a formação de novas gerações, ser barbaramente assassinado.

Você acha que professor se tornou uma profissão de risco?

Completamente, é uma situação de periculosidade. Foi anunciada a esquizofrenia ou bipolaridade desse aluno. Nós temos dados, por exemplo, da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, que 1% da população tem esquizofrenia, ou seja: para cada cem alunos, um tem problema de esquizofrenia. Nós vamos ficar nessa mediação? Não é o problema de excluir esse aluno, mas é preciso criar mecanismos no interior da escola para absorver esse aluno especial. A relação que existia era de professor-aluno e dá no que deu: essa fatalidade que nós estamos vendo hoje.

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