Wagner Gomes, presidente da CTB
É
difícil imaginar iniciativa mai inoportuna para o movimento sindical que a
campanha contra a contribuição sindical lançada pela CUT na segunda-feira, 26,
em Campinas (SP). A proposta, dotada de inegável viés liberal, é polêmica e
exclusivista. As outras centrais com maior representatividade entre os
trabalhadores e reconhecidas pelo Ministério do Trabalho (Força Sindical, CTB,
UGT, Nova Central e CGTB) defendem a contribuição, que corresponde ao desconto
anual de um dia de trabalho dos assalariados, e repudiam a atitude cutista.
Não
pretendo neste espaço entrar no mérito da concepção da CUT sobre o tema.
Comungo, com ampla maioria dos sindicalistas brasileiros, a convicção de que o
fim da contribuição compulsória vai enfraquecer os sindicatos e, por consequência,
o movimento social. O problema maior é a (in)oportunidade política da campanha,
que evidentemente divide as centrais e, com isto, reduz a força e o
protagonismo da classe trabalhadora na vida nacional.
O Brasil e a crise mundial
Vivemos
um momento singular da história humana, no mundo e no Brasil, marcado pela
maior crise do sistema capitalista desde a Grande Depressão em 1929 e a franca
decomposição da ordem imperialista fundada após a 2ª Grande Guerra sob a
hegemonia dos Estados Unidos. O Brasil não está à margem da crise, que
contribui para a desaceleração da nossa economia, comprometendo o emprego e os
salários dos que trabalham, e impulsiona a desindustrialização.
A
nação se defronta com o desafio e quem sabe a oportunidade de promover transformações
sociais mais profundas para sanar males estruturais da nossa sociedade e
contornar as ameaças decorrentes da crise mundial do capitalismo. Ganha força a
necessidade de realizar mudanças na política macroeconômica, ainda hoje
ancorada no tripé conservador da austeridade fiscal, juros altos e câmbio
flutuante, uma herança da controvertida Carta aos Brasileiros de junho de 2002.
Grito de Alerta
A
mobilização popular que as centrais realizam através do Grito de Alerta contra
a desindustrialização, em aliança pontual com empresários do setor produtivo,
vai nesta direção e merece todo nosso apoio. Através dela também podemos e
devemos abrir caminho para objetivos maiores, resgatando a agenda da 2ª Conclat
por um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento com Valorização de Trabalho e
Soberania.
É
nosso dever realçar as bandeiras imediatas e históricas da classe trabalhadora
no bojo do novo projeto nacional, associando-as ao fortalecimento do mercado
interno e à melhor distribuição da renda nacional. É o caso, entre outras, da redução
da jornada de trabalho sem redução de salários, reforma agrária e
fortalecimento da agricultura familiar, coibição da demissão sem justa causa,
fim do fator previdenciário, reforma tributária progressiva e integração
solidária dos povos e nações latino-americanos.
Desenvolvimento com valorização do
trabalho
Transparece
na crise a necessidade de aprofundar o processo de mudanças e transitar para um
novo projeto de nação. A história nos ensina que não é possível alcançar tal
objetivo sem grandes mobilizações e lutas. Por isto, é indispensável elevar a
consciência e o protagonismo da classe trabalhadora na vida política nacional.
Porém é muito difícil senão impossível conseguir isto sem uma sólida unidade do
movimento sindical.
Na
atual conjuntura, a campanha da CUT é um grave erro histórico, pois desvia a
atenção dos trabalhadores das questões principais da pauta nacional e elege
como prioritário um tema que, além de secundário, divide e enfraquece os
sindicatos. Objetivamente, independentemente das vontades individuais e dos
discursos, isto faz o jogo das forças conservadoras e de direita.
Nossa
expectativa é que os dirigentes cutistas façam uma reflexão crítica e
autocrítica sobre o assunto e tenham a sensatez de compreender os prejuízos
políticos que a ênfase na ação diversionista causa ao sindicalismo nacional e à
classe trabalhadora, pois queremos a CUT ao lado das outras centrais na árdua
batalha para concretizar a agenda da Conferência Nacional da Classe
Trabalhadora (Conclat).
* Por Wagner Gomes, presidente nacional da CTB
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