A Federação dos Agricultores
na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg) obteve grande destaque durante a
realização do 18º Grito da Terra Brasil, realizado no final de maio, em
Brasília. Para seu presidente, Vilson Luiz, o evento foi uma demonstração de
que apenas com muita pressão, luta e organização por parte dos trabalhadores e
trabalhadoras será possível obter novos avanços e preservar as conquistas já
obtidas.
A Fetaemg comemorou, no
último dia 27 de abril, 44 anos de existência. Diante desse momento importante
e das diversas mobilizações e desafios que permeiam os trabalhadores rurais
mineiros, Vilson Luiz, que também é secretário de Finanças da CTB, também faz
um balanço da atuação de sua entidade e projeta os planos para o próximo
período.
Em relação aos trabalhos e
enfrentamentos diários que a Fetaemg vem realizando, o presidente reafirmou o
compromisso principal com a reforma agrária e com a valorização dos
assalariados como formas de lutas contra o agronegócio e o capital
internacional. Destacou também sua participação na Rio+20, na 7ª Agriminas, seu
ponto de visto sobre o Código Florestal e as principais dificuldades
enfrentadas pelos trabalhadores rurais. Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Portal CTB: Como
a Fetaemg analisa o 18º Grito da Terra Brasil?
Vilson Luiz: O primeiro ponto que eu
quero colocar é que o Grito foi altamente positivo. Foi a verdadeira retomada
do grito da nossa Contag, do nosso movimento sindical, tendo o apoio da nossa
central, a CTB. Isso foi um fato importante. Nós, da Fetaemg, estivemos ao lado
do Joílson Cardoso, secretário de Política Sindical e Relações Institucionais
da CTB. Outro fator que para mim é importante como presidente da Fetaemg e
membro da executiva da CTB, é que Minas Gerais levou 58 ônibus, ou seja, mais
da metade do Grito da Terra nacional. Então, praticamente, foi um grito de
Minas, se comparado com algumas federações que levaram apenas um ônibus. O
entendimento entre as nossas delegações também foi outro fator importante. A
questão da organização, a nossa caminhada durante a manifestação, as falas que
nós fizemos – tudo isso foi importante. Até mesmo para darmos o tom para a
nossa base, para as nossas delegações, os trabalhadores e as nossas lideranças
para reforçar que as nossas conquistas só virão através da luta e da
organização. A reivindicação tem que ter pressão, o governo tem que ser
pressionado.
Portal CTB: O que a Fetaemg achou dos
encaminhamentos do governo federal quanto à pauta de reivindicações do Grito da
Terra, com a reforma agrária sendo deixada de lado?
Vilson Luiz: No
tocante à nossa pauta de atendimento, o governo precisa ter mais sensibilidade
com nós do campo. A Dilma está muito dura e na reforma agrária o governo não
quer nem falar. E como nós, enquanto país, vamos discutir segurança alimentar,
avanços, geração de emprego no campo, sendo que o governo não faz
verdadeiramente a reforma agrária? Até quando o governo vai fica sem atacar a
questão agrária brasileira, até quando o governo vai deixar que o capital
internacional, o grande latifúndio, os grandes empreendimentos e banqueiros
continuem comprando terra aqui no Brasil?
Em relação aos créditos propriamente ditos, como o Pronaf (Programa de
Fortalecimento da Agricultura Familiar), nós pedimos R$ 22 bilhões e a Dilma
nos cedeu R$ 18 bilhões. Sendo assim, como é que o governo pode falar que a
agricultura familiar é importante para o Brasil, que representa 70% da produção
da segurança alimentar, dos alimentos que entram na mesa dos brasileiros, no
dia a dia, sendo que o agronegócio do grande capital continua levando mais
dinheiro. Nós saímos pouco satisfeitos. Queríamos ter avançado mais, a nossa
pauta tinha mais de 200 itens de reivindicações e negociações com o governo, e
com os vários ministérios com que temos ligações.
Mas não vamos desistir, até
porque nosso papel é continuar organizados, lutando, pelejando e reivindicando
do governo. Não vamos nos dar por vencidos. Muito pelo contrário: em relação a
Minas Gerais, estou muito feliz com a nossa organização do 18º Grito, que pode
não ter avançado muito, mas pelo menos as delegações entenderam o nosso papel,
nossa função: para avançar temos que nos organizar e nos mobilizar. É preciso
sair de trás do sindicato, de trás da mesa e ir para luta para que possamos
avançar e trazer dias melhores para o nosso povo que está no meio rural.
Portal CTB: Como estão os projetos
de reforma agrária existentes no estado e que são apoiados pela Federação?
Vilson Luiz: A questão do trabalho dos Incras em todo o Brasil está péssima,
inclusive Minas Gerais fez um ato dentro do Grito da Terra. Eu e mais uma
equipe de liderança fomos até a sede do Incra e entregamos uma pauta ao
presidente. E estipulamos um prazo de 15 dias, sendo assim depois da Rio+20 nós
vamos voltar a Brasília e cobrar uma resposta em relação à pauta, pois o Incra
tem deixado muito a desejar, mas não vamos desanimar, vamos insistir, porque
esse é o nosso papel. De uma forma geral, vejo o Incra como uma estrutura
organizacional que tem o papel fundamental na reforma agrária, porém está muito
desmotivado e descompromissado.
Portal CTB: Quais
são no momento os principais desafios para os trabalhadores rurais de Minas
Gerais?
Vilson Luiz: A nossa bandeira principal é a reforma agrária, que envolve uma série de
questões agrícolas. Outro ponto é o respeito para com o nosso assalariado, já
que o governo tem dado muito prestigio, muito subsidio para o agronegócio, para
as indústrias que têm entrado no campo com suas máquinas, tirando nossos postos
de trabalho, sendo que todo mundo precisa de trabalho.Outra questão na qual
estamos focados é na organização das nossas lideranças, porque não adianta
termos uma boa pauta se as lideranças não estiverem comprometidas. Nesse
sentido, também estamos no combate cobrando o governo estadual.
Então nós precisamos
levantar voz, porque o governo precisa ser cobrado diariamente. Assim que
terminar a Rio+20, a
Fetaemg vai lançar a campanha Movimento Sindical em Ação. Vamos junto com a
nossa base mobilizar e capacitar as lideranças para organizar projetos e
dinâmicas que possam estimular os dirigentes a implementarem em suas bases, nos
seus municípios, as políticas públicas que nós temos conquistados.
Portal CTB: Quais
as expectativas para a 7º edição da Agriminas e a importância da feira para o
fortalecimento da agricultura familiar mineira?
Vilson Luiz:Nós estamos trabalhando
muito e já temos propaganda da Agriminas sendo
divulgada em vários veículos de
comunicação. O evento é importante e precisamos levar o máximo de pessoas
possível e mostrar para elas que nós produzimos, expondo nosso trabalho. Pois
os produtos produzidos pela agricultura familiar, o próprio nome já diz,
simboliza a família trabalhando, não são máquinas. Enquanto o empresário só
pensa em máquinas, que substitui a mão de obra humana, nosso caso é diferente,
pois estamos trabalhando preocupados com a estabilidade e a segurança
alimentar, preocupados com os produtos, que serão servidos nas mesas de todos
os brasileiros.
A Agriminas, além de ser uma vitrine para os visitantes, é também uma
oportunidade para que os agricultores familiares, através de suas associações
de agroindústria familiar, possam abrir mercados e vender seus produtos. Nós
trabalhamos a organização da produção, do crédito, a assistência técnica e
precisamos descobrir mercados locais, estaduais, regionais, nacionais e até
internacional. Já estamos indo para a sétima edição, e já há agricultores
vendendo queijo para a Itália. Temos hoje exemplos de pessoas que eram
empregados e hoje já possuem seu próprio negócio. Eles têm os conceitos para ser
bons empreendedores que trabalham com suas famílias e com suas cidades,
ajudando a gerar empregos, renda e sabendo cuidar e usar bem os recursos
naturais.
A CTB é a nossa parceira e
está estampada nos matérias de divulgação. A expectativa é pelo sucesso de mais
uma feira, na qual Belo Horizonte se tornará a capital dos negócios para a
agricultura familiar e para os assentamentos de reforma agrária também.
Portal CTB: Quais
são as expectativas em relação à Conferência Rio+20?
Vilson Luiz: Irei participar da Rio+20
representando a CTB, e estou muito preocupado, porque os movimentos
urbanos e outras categorias, quando falam de preservação ambiental, só pensam
em nós, da roça. A cidade precisa se mover e pensar nos impactos que também
causam para o meio ambiente. Estarão lá muitas entidades ambientalistas de
peso, as grandes empresas, os governos de países e, se nós não estivermos
altamente organizados, eles vão nos trucidar. Estou muito focado na minha fala
sobre a questão da segurança alimentar, pois precisamos saber usar os recursos
naturais com equilíbrio e ter um manuseio de produção de sustentabilidade sem
agredir o meio ambiente. Há muitos ambientalistas que são muito radicais, que
inclusive são mantidos por grandes empresas que prejudicam o meio ambiente. Eles
focam em cima dos pequenos agricultores e por isso nós temos que ir para a
Rio+20 e mostrar nossa indignação e também ter capacidade e inteligência para
mostrar nossas propostas.
Portal CTB: Já são 44 anos de
existência da Federação. Quais as principais conquistas e os desafios para o
próximo período?
Vilson Luiz: Eu fico muito feliz em participar desse processo que a Fetaemg comemorou
no
dia 27 de abril, de 44 anos de existência, lutas e organização. A Fetaemg é
a maior federação do sistema Contag e da América Latina. A Federação está
caminhando para 600 sindicatos organizados em Minas Gerais e há a cada dia mais
trabalhos e demandas. Outro motivo de alegria é que a nossa Federação foi a
primeira a se filiar à CTB, por unanimidade. A Fetaemg em todos esses anos vem
estendendo o processo de organização. E com o principio de organização, nós
temos conquistados muitas conquistas para os nossos trabalhadores. Nós pautamos
com o governo e com as autoridades os gargalos que nós enfrentamos aqui no dia
a dia esse é o nosso diferencial. A Fetaemg tem feito isso e a Contag e a CTB
estão cientes.
Eu sou uma pessoa que, mesmo
diante de dificuldades, se mantém otimista, porque temos que trabalhar para
conquistar um futuro melhor para os nossos trabalhadores. Trabalho na roça
desde pequeno e dedico minha vida ao movimento sindical rural e gostaria de ver
mais comprometimento dos demais dirigentes para com os trabalhadores, porque é
somente com a dedicação de todos que podemos avançar e obter mais conquistas.
Portal CTB: Sobre
o novo Código Florestal, o que os vetos da presidenta Dilma significam para os
trabalhadores rurais?
Vilson Luiz: Nós analisamos com bons olhos, porque a presidenta Dilma não poderia
sancionar do jeito que estava – e essa novela precisava ter um fim.
Evidentemente tivemos prejuízo quando foram feitas as propostas de alteração,
pois se o Código Florestal tivesse sido votado da forma como ele estava quando
tinha sido formulado no início, ele seria melhor para a agricultura familiar e
para o pequeno agricultor. Mas os vetos da Dilma foram sábios e ela entendeu
que o agricultor familiar tem que ser tratado de forma diferente em relação ao
agronegócio.
Paula Farias – Portal CTB
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