O Supremo Tribunal Federal
(STF) inicia nesta quinta-feira (2) o julgamento do chamado “mensalão”. As
forças conservadoras estão alvoroçadas com o fato. Com a cumplicidade da grande
mídia, a direita neoliberal, capitaneada pelo PSDB e DEM, mal disfarça a
vontade de tirar vantagem eleitoral do episódio no pleito de outubro, de forma
a sair das catacumbas a que foi remetida pelo eleitorado brasileiro e ganhar
musculatura para 2014.
O ruído que os monopólios da
comunicação estão fomentando em torno do tema é revelador dessas intenções
políticas. Querem transformar o que eles próprios denominam de “julgamento do
século”, numa sentença condenatória contra os 38 réus do processo, boa parte
deles políticos petistas aliados aos movimentos sociais, incluindo o
ex-presidente do PT José Dirceu, acusado de ser o chefe de um suposto esquema
operado pelo publicitário Marcos Valério, que seria destinado a fornecer
dinheiro de origem ilícita para políticos da base do governo Lula no Congresso.
Pressionado, Dirceu saiu do governo e teve seu mandato de deputado federal cassado.
Convém recordar que o
escândalo estourou em 2005 e foi amplificado pelos holofotes da grande mídia,
que, em 1997, diferentemente, tratou de abafar a compra de votos no Congresso
Nacional para aprovar a ementa constitucional que permitiu a reeleição de FHC.
Sete anos atrás, a direita
promoveu um carnaval midiático em nome da moralidade pública a fim de
desmoralizar e derrubar o presidente Lula, objetivos que só não alcançou devido
à reação dos movimentos sociais em defesa do governo.
Hipocrisia
Não é a moral nem os bons
costumes que estão em jogo nesta peleja. A CPI do Cachoeira e as evidências de
ligação do ex-senador Demóstenes Torres (DEM) com o famoso bicheiro revelam a
hipocrisia das forças conservadoras.
Antes de ser cassado, o
político goiano, eleito com dinheiro do crime organizado, havia sido
transformado pelos monopólios da comunicação em paladino da luta contra a
corrupção. Parecia grande autoridade no tema, com destaque em jornais e TV, até
a divulgação dos grampos telefônicos da PF, em que se revela um mero serviçal
do contraventor.
O povo brasileiro não
demorou a perceber o jogo sujo da direita em 2005 e fez ouvidos moucos ao canto
de sereia neoliberal. No ano seguinte, embora o suposto mensalão continuasse
ecoando com força na mídia, o eleitorado reelegeu Lula, impondo nova derrota a
demos e tucanos, assim como aos monopólios da comunicação. A dose amarga para
nossa direita foi repetida em 2010. Assim, a população fez seu próprio
julgamento político do episódio.
O que se inicia agora,
quinta-feira, é o julgamento jurídico pelos ministros do STF. O movimento
sindical está convencido de que os ministros do Supremo saberão separar o joio
do trigo e realizar um julgamento estritamente técnico do processo, absolvendo
ou punindo os réus com base nos autos e nas provas, sem se deixar levar pelas
pressões da mídia e dos políticos.
O pano de fundo do suposto
mensalão, assim como do esquema armado pelo bicheiro Cachoeira a partir de
Goiás, é o financiamento privado das campanhas eleitorais, que estimula o uso
de recursos não contabilizados (Caixa 2) nas eleições, subordina os políticos e
as instituições ao poder econômico e multiplica os canais da corrupção.
A solução para esses e
outros males passa, necessariamente, pela aprovação de uma reforma política
democrática, que, entre outras coisas, deve contemplar o financiamento público
das campanhas políticas.
Wagner Gomes
Presidente da CTB Nacional
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