6 de mar. de 2014

Estudo avalia inserção da população feminina no mercado de trabalho da RMBH em 2013

Minoria entre empregados, mulheres ainda ganham menos que os homens

Foto: Jose Cruz/Agencia Brasil. Exposição no Planalto mostrava fotos das primeiras trabalhadoras com carteira assinada no Brasil

Entre 2012 e 2013, a taxa de desemprego das mulheres na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) aumentou mais que a referente aos homens, passando de 5,9% para 7,9% da População Economicamente Ativa (PEA) feminina. No mesmo período, a taxa masculina teve um incremento de 4,5% para 6%. Com estes números, no ano de 2013 o sexo feminino continuou representando a minoria entre os ocupados (46%) e a maioria entre os desempregados (53,5%).

A conclusão é parte do Boletim Especial “A inserção da mulher no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Belo Horizonte”, desenvolvido anualmente pela Fundação João Pinheiro (FJP),Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), pelo Dieese e pela Fundação Seade, e divulgado na manhã desta quinta-feira (6).

O aumento de 2,5% no contingente de ocupados de ambos os sexos não foi suficiente para acompanhar o ritmo de crescimento da PEA (4,5%), o que resultou no acréscimo do número de desempregados homens e mulheres no mercado de trabalho.  A taxa de desemprego total, que apresentou trajetória de redução nos três anos anteriores, voltou a aumentar (6,9%). Em movimento contrário, o rendimento real médio dos ocupados teve incremento de 11,8%, retomando tendência de elevação observada até 2010.
Na comparação por gênero, enquanto os homens tiveram um acréscimo de 1,5% no percentual de desemprego, as mulheres tiveram aumento de 2% em relação a 2012. Para mulheres negras, a situação é ainda menos favorável. “Do total de mulheres desempregadas, 66,4% são negras, ou seja, ser mulher e negra no mercado de trabalho é sinônimo de precariedade em relação a emprego”, observa o coordenador da Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Belo Horizonte (PED-RMBH) pela Fundação João Pinheiro, Plínio Campos.

Setores - Em 2013 foi observado aumento na taxa de ocupação da população feminina, especialmente na construção (30,8%), na indústria de transformação (7%) e, em menor medida, nos setores de reparação de veículos (2,3%) e serviços (1,9%).

“A participação da mulher em cursos de formação profissional para o setor de construção vem aumentando e isso se deve à perspectiva de ganhos mais elevados, uma vez que algumas funções na construção pagam mais que o setor de serviços e o serviço doméstico, por exemplo”, afirma Campos.

O aumento no número de ocupações entre as mulheres ocorreu, sobretudo, no assalariamento do setor privado com carteira assinada (4,6%). Entre aquelas que não possuíam registro em carteira, houve acréscimo de 1,7%. Observou-se redução do nível ocupacional feminino na posição de empregada doméstica mensalista (10,6%) e crescimento na posição de diarista (14,3%). A pesquisa também apontou incremento ocupacional de 3,5% na população feminina do setor público e de 2,2% na de autônomas.

Rendimentos - Ao longo de 2013 o rendimento médio mensal real para ambos os sexos aumentou 11,8% e passou de R$ 1.545 (2012) para R$ 1.727. Entre as mulheres, a média salarial subiu de R$ 1.278 para R$ 1.410, com acréscimo de 10,3%. Para a população masculina, o crescimento foi de 13,3%: de R$ 1.784 para R$ 2.022.

“Historicamente as mulheres exercem atividades que oferecem remunerações inferiores àquelas exercidas por homens. Esta situação está mudando, mas as diferenças não irão acabar da noite para o dia”, observa Plínio Campos.

As mulheres tiveram os menores rendimentos mensais médios em todos os setores de atividade analisados. “A maior desigualdade foi observada na indústria de transformação. Nela, o rendimento feminino correspondia, em 2013, a 67,4% da remuneração dos homens. Por outro lado, no comércio e reparação de veículos, observou-se uma diferença menor no rendimento entre os sexos: a remuneração feminina correspondia a 75% da masculina”, explica Campos.

As diferenças de jornadas entre homens (42 horas semanais) e mulheres (38 horas) atenuam a desigualdade nos rendimentos, mas não a eliminam: em 2012, o rendimento médio real por hora da população feminina correspondia a 79,2% do rendimento masculino. Em 2013, todavia, essa proporção diminuiu para 77,1%.
Nos setores analisados, a jornada de trabalho das mulheres foi menor que a dos homens, mas, considerando as distribuições de rendimento e jornada, o setor de serviços apresentou o menor hiato no rendimento por hora trabalhada segundo sexo.  Nesse setor, o rendimento da população feminina equivaleu a 80,8% do ganho dos homens em 2013.

Perspectivas - A pesquisa apresenta dados que deixam clara a posição histórica de inferioridade feminina no mercado de trabalho. Porém, Campos destaca que a situação pode ser atenuada caso haja uma reversão no quadro geral da economia brasileira. “Se o país voltar a ter um crescimento acentuado, como tivemos em anos anteriores, essas diferenças devem diminuir”, conclui.

Fonte: Fundação João Pinheiro


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