*Por João Alves de Almeida
As medidas que vêm sendo
adotadas pelas montadoras instaladas no País, como conceder férias coletivas
aos trabalhadores, abrir Programas de Demissão Voluntária (PDV) ou fazer
paradas técnicas, vão além da necessidade alegada pela indústria
automobilística de ajustar a produção à atual demanda do mercado.
Seguindo a decisão tomada
por várias empresas do setor, a Fiat Automóveis, que é da base de representação
do nosso Sindicato, também anunciou um período de férias coletivas para
centenas de funcionários, em vários de seus setores de trabalho.
As montadoras argumentam
que o elevado estoque de carros nos pátios das fábricas é decorrente da queda
de 8,4% na produção de veículos no primeiro trimestre deste ano, em relação ao
mesmo período do ano passado, o que teria causado recuo nas vendas internas e
externas, conforme dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea).
Segundo as empresas, os
estoques teriam subido de 37 dias, em fevereiro, para 48 dias, em março,
somando as unidades dos pátios das montadoras e também nas concessionárias.
No
entanto, em que pese o comprovado desaquecimento das vendas, para o que, aliás,
existem várias razões, estas medidas são uma forma de pressão política do setor
para que o governo federal prorrogue a redução do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para os veículos, já que a previsão é de que a alíquota
volte ao normal em julho deste ano.
Foi com esta mesma
argumentação – de que os estoques de veículos estão deixando lotados os pátios
– que as montadoras conseguiram fazer com que o governo federal reduzisse o IPI
para os carros em maio de 2012, medida que, convém lembrar, possibilitou à
indústria automobilística alcançar recordes históricos de vendas em junho,
julho e agosto daquele ano.
O desconto voltou a ser
reduzido em abril de 2013 e em janeiro de 2014, mas, vale lembrar, em nenhuma
destas oportunidades, o governo ou as montadoras acenaram com alguma
contrapartida social para os trabalhadores, como a garantia de emprego, por
exemplo.
Outra informação
relevante, que talvez tenha passado despercebida, é que apenas com a redução do
IPI total, incluindo principalmente a indústria automobilística, o governo federal
deixou de arrecadar R$ 11,882 bilhões, em 2013, recursos que poderiam ter sido
revertidos em favor dos trabalhadores, através da implantação de políticas que
fossem capazes de abrir mais vagas nas fábricas ou por meio de cursos de
qualificação técnica e profissional ou, sobretudo, investimentos nas áreas de
Saúde e Educação, dentre outras.
Mas, além da pressão pela
prorrogação da redução do IPI, outros motivos podem explicar as medidas que vêm
sendo tomadas pelas montadoras. Podemos citar, dentre eles, o recente aumento
da taxa básica de juros (Selic) - que subiu para 11% ao ano e encareceu o
crédito; os reajustes nos preços dos carros novos, também por conta da
introdução de airbags e ABS nos veículos leves - que deixam as concessionárias
lotadas; além das eleições gerais de outubro; fatores que, de uma forma ou de
outra, geram incertezas na indústria.
Os patrões sempre têm a
“mania” de vender o “pior dos mundos”. Mas, no frigir dos ovos, o que esperamos
é que os metalúrgicos não sejam prejudicados ou paguem com demissão as pressões
políticas ou as dificuldades financeiras que vêm sendo alegadas pela indústria
automobilística, setor que, como todos sabem, é um dos mais relevantes do país,
cujo faturamento tem sido cada vez maior nos últimos anos, sem que, em contrapartida,
os trabalhadores recebam salários mais dignos, particularmente em Betim, cujos
rendimentos continuam bem aquém do que recebem metalúrgicos de montadoras em
outros estados.
*Presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de Betim e Região
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