18 de abr. de 2016

Câmara dos Deputados afronta democracia, mas luta contra o golpe continua no Senado


"Se for para acontecer o que é certo, a Dilma não sai, não", opinou a ambulante e auxiliar de limpeza Janaína Cristina, 23 anos, que vendia água no início da tarde no Vale do Anhangabaú durante o ato contra o impeachment, em São Paulo. Pois aconteceu "o que é errado", na visão de Janaína, e a Câmara dos Deputados aprovou o impedimento da presidenta Dilma Rousseff nesta dramática noite de domingo (17).
No placar final foram contabilizados 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções e 2 ausências. Durante todo o dia, cerca de 100 mil pessoas foram ao Anhangabaú, região central de São Paulo, para se manifestar contra a tentativa de golpe no país e acompanhar em um telão lá armado a votação na Câmara dos Deputados - como aconteceu na maior parte do Brasil.
Reações de indignação, silêncio, revolta e comemoração se alternaram no vale ao longo da transmissão, à medida que os parlamentares apresentavam seus votos. E o desfecho duro de engolir foi recebido com incredulidade por muitos presentes, que não esperavam assistir de novo, um golpe à legalidade e ao Estado Democrático de Direito.
É o caso de Enoil de Carvalho, 72 anos, que viveu bem de perto o golpe de 64, teve parentes presos e amigos desaparecidos e não esperava ver a Constituição ser posta de lado com tanta "cara de pau e descompostura" de novo.
"Você percebe que tem muita gente, mas muita gente mesmo que está achando isso tudo muito normal?", indaga ela. "Eu vejo gente bem informada que acha que é assim mesmo que se faz. Bem se vê que a ignorância não tem nada a ver com condição econômica", diz Enoil, que deixou o vale consternada, logo após a fala do deputado Jair Bolsonaro, que, em seu voto, prestou homenagem ao torturador Brilhante Ulstra.
CTB: "A batalha está só começando", diz dirigente
Em resposta ao golpe concretizado na Câmara, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, que acompanhava os acontecimentos em Brasília, trouxe mensagem de luta: "Hoje a classe trabalhadora testemunhou um grande golpe à democracia, mas também vimos o povo se levantar pelo Brasil e afirmar que haverá luta contra esse golpe parlamentar orquestrado pelo gângster Eduardo Cunha".
"É hora de povo na rua, de luta sem trégua, mobilização geral", pontua Rogério Nunes (foto), secretário de políticas sociais da CTB, enquanto assistia à transmissão em São Paulo. A Central foi representada por suas lideranças sindicais e dirigentes, como o presidente da CTB-SP, Onofre Gonçalves, que foi ao anhangabaú dizer "não ao golpe" (foto, à dir., ao lado da vice-prefeita da São Paulo, Nádia Campeão) e reafirmar a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e contra o avanço do golpe e da retirada de garantias trabalhistas duramente conquistadas nos últimos governos Lula e Dilma.  
Raimunda Gomes (foto acima, à esq.), secretária de Comunicação da CTB, aposta na vitória da democracia para barrar o que seria o maior retrocesso da história recente do país. "O momento exige do povo brasileiro e dos movimentos que atuam em defesa da democracia, muita resignação, porque a batalha está apenas começando. Teremos um longo caminho a percorrer, dialogando e mobilizando amplos setores da sociedade, para acumular força e ganhar essa guerra. A batalha no Senado será um momento decisivo e é lá que venceremos esse jogo", disse 
A população que foi ao Anhangabaú reagiu aos gritos de "Não vai ter golpe, vai ter luta" e "A luta continua", lembrando que a resistência agora é palavra de ordem para barrar o impeachment no Senado federal. Teve tristeza, mas o que preponderou mesmo no centro da capital paulista foi a certeza maior que nunca em cada consciência ali presente de que este é o lado certo da luta. 
Para o dirigente da CTB Eduardo Navarro, o resultado da votação deixará marcas profundas. "A maioria dos deputados apunhalou a democracia. E esta é uma página muito triste de nossa história. Mas não se pode esmorecer agora. É preciso resistir para que a democracia vença no final".
Portal CTB - Natália Rangel
Fotos: Joca Duarte e Érika Ceconi

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