Os desafios do movimento sindical e os impactos da crise em Minas Gerais e no Brasil foram os temas que dominaram o primeiro dia do 4º Congresso Estadual da CTB Minas. Com o lema “Democracia, Resistência e Luta”, o encontro foi aberto nesta sexta (14), no Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte (MG).
“Vivemos tempos bicudos. A instabilidade vem tomando grandes proporções”, afirmou o presidente nacional da CTB, Adilson Araújo, na mesa que debateu a conjuntura. “O problema da retração econômica é mundial. A crise do capitalismo vai completar dez anos, com efeitos dramáticos e devastadores.”
No Brasil, diante do golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff e da ascensão do governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB), a classe trabalhadora foi particularmente atingida. “Há cem anos, com a greve geral de 1917, a primeira grande greve de nossa história, começamos a viabilizar uma legislação trabalhista que se consolidou no governo Vargas. Agora, cem anos depois, vivemos a desregulamentação do trabalho – uma receita ancorada em pressupostos da globalização que elevaram à precarização.”
Na opinião de Adilson, o governo Temer aproveitou a reforma trabalhista para embutir, em seu interior, parte da reforma da Previdência. “Com isso, aprovaram muitas mudanças que vão elevar a precarização e afetar a vida do povo brasileiro. Nenhum país que adotou a flexibilização das leis trabalhistas gerou empregos. Ao contrário: gerou mais desemprego, doenças ocupacionais, acidentes do trabalho e até óbito.”
O presidente da CTB aposta que, com o desmonte da CLT, sancionado por Temer nesta semana, práticas como o layoff (suspensão temporária do contrato de trabalho) e o plano de demissões voluntárias devem se acentuar. “Trabalhadores sairão em massa do interior para buscar emprego nos grandes centros”, diz Adilson. Outra tendência é o aumento da jornada de trabalho – que poderá ser negociada diretamente com o trabalhador – e avanço de do trabalho em condições análogas à escravidão.
O sindicalismo diante da crise
A nova realidade imposta pela reforma trabalhista deve mudar também a atuação do movimento sindical – a começar pelas centrais. Embora a CTB esteja prestes a inaugurar uma sede própria e planeje convocar, ainda neste ano, um encontro nacional para debater uma comunicação unificada, Adilson reconhece que o fim do imposto sindical é um retrocesso de maior calibre. “Central sindical vive da contribuição sindical. É no limite que a CTB está encerrando um ciclo de dez anos – os primeiros dez anos. Nosso projeto foi abalado.”
O dirigente sustenta que a CTB tem de sair de seu 4º Congresso Nacional, de 24 a 26 de agosto, em Salvador (BA), com um “projeto para fazer a disputa político-ideológica”. A eleição de parlamentares de origem sindical é outra missão. “Temos de colocar esse objetivo no centro do debate. Enquanto não tivermos mais nomes no Congresso como Paulo Paim e Jô Morais, estaremos fadados à morte.”
“Repensar” o sindicalismo se torna igualmente indispensável, segundo Adilson. “De qual movimento sindical precisamos? Se não formos às feiras, às ruas, para falar com o povo, só a Globo vai falar por nós”, declarou. “Não temos outro caminho – a não ser resistir a todo custo. Temos de disputar protagonismo agora. Temos de unificar o nosso time e ganhar o povo, que está muito descrente.”
Marcelino da Rocha, presidente da CTB Minas e da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil), chamou a atenção para os impasses na relação dos movimentos com a gestão do governador mineiro, Fernando Pimentel (PT). “É verdade que o estado está falido, com um orçamento deteriorado. Mas ninguém governa Minas, com seus mais de 800 municípios, sem o povo.”
De acordo com Marcelino, nas eleições estaduais de 2014, Pimentel, então candidato, se comprometeu com uma pauta de 13 pontos dos movimentos sindical e social. Mas, uma vez eleito, ele só foi receber os movimentos depois de um ano e sete meses de gestão.
“Às vezes, parece que, num governo do campo democrático-popular, a questão social também vira caso de polícia. Nunca vi tanta porrada no movimento sindical e social como no último período”, afirmou o dirigente. “As várias Minas Gerais precisam de um projeto que unifique o povo. É preciso haver mais participação popular no governo e uma revisão dos investimentos, com prioridade para áreas sociais.”
Ao citar que a rejeição ao governo passou de16% em 2015 para mais de 40% hoje, Marcelino disse que a gestão Pimentel “deve fazer um contraponto” ao governo Temer. “Temos que impulsionar, criar as condições para um novo projeto. Mas não só o projeto do papel.”
O 4º Congresso Estadual será encerrado neste sabádo (15), com o balanço da gestão cessante da CTB Minas (2013-2017), o novo plano de lutas e a eleição da próxima diretoria. Mais de 300 delegados acompanham a programação. Precedido por etapas regionais, o Encontro reafirma a condição da CTB Minas como umas das maiores e mais importantes seções estaduais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
Por André Cintra - Fitmetal
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