Texto e foto: Anderson Pereira
“Bolsonaro deveria ser punido pela Justiça por incentivar a comemoração dos 55 anos do Golpe Militar no Brasil”. A opinião é do sindicalista e ex-preso político Henrique Roberti Sobrinho, hoje com 92 anos de idade. Ele não concorda com a decisão da desembargadora Maria do Carmo Cardoso, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que liberou as comemorações do golpe em todo o país nesse 31 de março.
A desembargadora alegou que a decisão sobre as comemorações dos atos pró-64 é de competência da administração pública. Essa justificativa suspendeu uma liminar concedida anteriormente pela 6ª Vara Federal do Distrito Federal, que impedia o governo e a Forças Armadas de comemorarem, neste domingo, o Golpe Militar de 1964.
Durante conversa com a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - seção Minas Gerais (CTB-MG), Henrique Sobrinho lembrou de quando foi preso e torturado naquele ano por dirigir a greve dos Correios. Na época, ele era presidente da União Brasileira dos Servidores Postais e Telégrafos no Estado.
O sindicalista foi levado para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) – órgão da repressão militar usado para torturar os presos políticos da época. Lá, ele foi torturado e ficou 72 dias preso numa pequena cela com dezenas de outras pessoas.
“O espaço era pequeno e a gente mal podia abaixar. Me lembro que tínhamos de fazer um revezamento para dormir. O tratamento era desumano e causava um desconforto físico e mental”, lembra ele.
Do DOPS, Henrique Sobrinho seria transferido para a penitenciária da cidade de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde ficou detido por mais três meses. As visitas só eram permitidas, muitas vezes, a cada 15 dias.
Em liberdade, o sindicalista se viu obrigado a viver na clandestinidade após governo militar decretar, em 1968, o Ato Institucional número 5 (AI-5). Esse ato, considerado o pior de todos, autorizava, entre outras medidas, o fechamento do Congresso Nacional e a cassação de mandatos parlamentares.
Henrique Sobrinho, já filiado ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), foi para o Paraná, em 1969, organizar a luta contra o regime militar. Em 1970, ele seria preso na Região Metropolitana de Londrina. No Sul do país, o sindicalista sofreu várias torturas (afogamentos, choques elétricos e espancamentos).
Aniversário do filho
Após
35 dias preso no Paraná, Henrique Sobrinho seria transferido para o Presídio de
Linhares, na cidade de Juiz de Fora (MG). De volta a Minas Gerais, ele ficaria
detido por mais um ano e três meses sem direito a leitura, informações e poucas
visitas.
O
tratamento dispensado aos presos políticos era desumano. Certa vez, Henrique Sobrinho
pediu para ver o filho mais velho por ocasião do seu aniversário de 10 anos. O
pedido foi negado e ele ainda foi punido com isolamento físico, sem sol, por
vários dias.
As
poucas informações a que tinha acesso chegavam através de um pequeno rádio que
ele e outros presos mantinham escondido no presídio. Henrique seria libertado somente
no ano de 1976, quando voltou a militar no movimento sindical.
“Faria
tudo de novo, pois era a minha obrigação de cidadão. Eu estava lutando por salário
digno, moradia e emprego. Hoje, temos milhares de desempregados e um governo
que é contra os trabalhadores. Por isso, eu digo: Vamos à luta”, diz ele que
atualmente é pai de oito filhos, nove netos e dois bisnetos.
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