Por Alex Santos Custodio*
No material promocional, um dos dados celebrados é que o Fiat
Argo, fabricado há apenas dois anos em Betim, alcançou a marca de 150 mil
unidades e já é o sétimo automóvel mais vendido no Brasil. No geral, desde 9 de
julho de 1976, foram produzidos 15,6 milhões de carros nessa planta. São muitos
dígitos, muitas casas decimais. Mas quem está por trás disso? Quantas dezenas
ou centenas de milhares de operários metalúrgicos se envolveram? Cadê os
trabalhadores na propaganda da Fiat?
Em outro trecho de seu release à imprensa, a Fiat diz que investirá R$ 8,5 bilhões na planta de Betim até 2024. Parte desses recursos já tem destino conhecido. Em maio, a empresa anunciou duas novas linhas de motores. Segundo a Fiat, quando essas unidades começarem a operar, entre 2020 e 2021, Betim será “o maior polo produtor de motores e transmissões da América Latina”.
Haverá, também, renovação na linha de produtos. Para se adaptar ao mercado brasileiro, a Fiat lançará, a partir de 2020, três novos modelos de automóveis. Ao mesmo tempo, será inaugurado um “laboratório de inovação para o desenvolvimento de soluções da Indústria 4.0”, já devidamente batizado com a sigla WCC (World Class Center).
O discurso parece bonito, bem embalado. Porém, uma vez mais, o trabalhador que lê essa narrativa tem o direito – e a tentação – de fazer perguntas. Com tamanho otimismo em relação ao futuro, por que a Fiat demitiu cerca de 10 mil trabalhadores nos últimos sete anos? Diante de tantos projetos no horizonte, quantos empregos diretos podem ser recuperados? Em quais prazos? Por que, afinal, esses temas, de interesse do trabalhador, não aparecem na propaganda festiva da Fiat?
Outra dúvida inadiável: será que a estimativa de R$ 8,5 bilhões em investimentos é “pra valer”? No começo de junho, durante a campanha salarial, a Fiat ameaçou não dar reajustes, cortar direitos e reduzir benefícios. Na ocasião, alegava restrições financeiras. Ou a empresa mentiu lá atrás, ao dizer que passava por dificuldades e não podia sequer repor as perdas inflacionárias; ou mentiu agora, ao anunciar que, só para investir, há bilhões e bilhões em recursos disponíveis. O enredo da Fiat não fecha.
Diz o bom senso que não devemos falar mal de aniversariantes, muito menos no dia da festa. Tampouco podemos desconsiderar que, num cenário de crise econômica e desindustrialização, as notícias vindas da Fiat apontam em direção contrária. Sob o governo Bolsonaro, além da recessão, a regra tem sido o fechamento de importantes unidades fabris no Brasil (Ford, Embraer, Toyota, entre outras). Já a Fiat, no limiar de seu 43º aniversário no Brasil, promete abrir, ampliar – e não cortar ou fechar.
O problema dessa “festa” – a parte desagradável em meio ao oba-oba – é que os trabalhadores ficaram injustamente de fora, como se fossem personas non grata. É mais um capítulo desabonador no histórico da Fiat, marcado por práticas abusivas, antitrabalhistas e antissindicais. Aliás, se dependesse exclusivamente da empresa, o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim seria calado e extinto para sempre – e a categoria ficaria sem seu mais importante e efetivo instrumento de luta.
Mas nós, metalúrgicos e metalúrgicas de Betim, não nos calaremos, nem seremos reduzidos a números. Somos cérebros, corações, braços e mãos que operam as máquinas e os projetos da Fiat diariamente, em três turnos, sob sol ou chuva. Somos empregados qualificados, trabalhadores responsáveis, homens e mulheres conscientes. Nossos sonhos e desejos – tanto os pessoais quanto os coletivos – não cabem na tabela de números e metas que a Fiat exibe em sua narrativa forjada.
Basta ver o que houve na campanha salarial. Talvez a Fiat desconfiasse, ingenuamente, que o Sindicato não resistira à reforma trabalhista ou ao governo de políticos ultraliberais e antipovo, como Jair Bolsonaro e Romeu Zema. Talvez a Fiat imaginasse que, desta vez, haveria menos lutas e, com isso, mais chances de impor retrocessos. Só que ocorreu o contrário! Mais uma vez, os trabalhadores confiaram no Sindicato, que construiu uma pauta justa e conduziu a categoria à vitória. É um feito que põe os metalúrgicos de Betim como referência no sindicalismo brasileiro hoje.
Que a Fiat possa crescer em Betim, expandir seus negócios, bater recordes de produção, estimular a economia local, garantir seus lucros e, enfim, festejar. Mas que tudo isso ocorra em favor também dos trabalhadores – e não à nossa custa. Que sejamos parte da festa com salários e direitos cada vez mais dignos, geração de empregos e o devido reconhecimento aos verdadeiros motores dessa gigante automotiva!
* Alex Santos Custodio, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região (MG), é membro da direção da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Em outro trecho de seu release à imprensa, a Fiat diz que investirá R$ 8,5 bilhões na planta de Betim até 2024. Parte desses recursos já tem destino conhecido. Em maio, a empresa anunciou duas novas linhas de motores. Segundo a Fiat, quando essas unidades começarem a operar, entre 2020 e 2021, Betim será “o maior polo produtor de motores e transmissões da América Latina”.
Haverá, também, renovação na linha de produtos. Para se adaptar ao mercado brasileiro, a Fiat lançará, a partir de 2020, três novos modelos de automóveis. Ao mesmo tempo, será inaugurado um “laboratório de inovação para o desenvolvimento de soluções da Indústria 4.0”, já devidamente batizado com a sigla WCC (World Class Center).
O discurso parece bonito, bem embalado. Porém, uma vez mais, o trabalhador que lê essa narrativa tem o direito – e a tentação – de fazer perguntas. Com tamanho otimismo em relação ao futuro, por que a Fiat demitiu cerca de 10 mil trabalhadores nos últimos sete anos? Diante de tantos projetos no horizonte, quantos empregos diretos podem ser recuperados? Em quais prazos? Por que, afinal, esses temas, de interesse do trabalhador, não aparecem na propaganda festiva da Fiat?
Outra dúvida inadiável: será que a estimativa de R$ 8,5 bilhões em investimentos é “pra valer”? No começo de junho, durante a campanha salarial, a Fiat ameaçou não dar reajustes, cortar direitos e reduzir benefícios. Na ocasião, alegava restrições financeiras. Ou a empresa mentiu lá atrás, ao dizer que passava por dificuldades e não podia sequer repor as perdas inflacionárias; ou mentiu agora, ao anunciar que, só para investir, há bilhões e bilhões em recursos disponíveis. O enredo da Fiat não fecha.
Diz o bom senso que não devemos falar mal de aniversariantes, muito menos no dia da festa. Tampouco podemos desconsiderar que, num cenário de crise econômica e desindustrialização, as notícias vindas da Fiat apontam em direção contrária. Sob o governo Bolsonaro, além da recessão, a regra tem sido o fechamento de importantes unidades fabris no Brasil (Ford, Embraer, Toyota, entre outras). Já a Fiat, no limiar de seu 43º aniversário no Brasil, promete abrir, ampliar – e não cortar ou fechar.
O problema dessa “festa” – a parte desagradável em meio ao oba-oba – é que os trabalhadores ficaram injustamente de fora, como se fossem personas non grata. É mais um capítulo desabonador no histórico da Fiat, marcado por práticas abusivas, antitrabalhistas e antissindicais. Aliás, se dependesse exclusivamente da empresa, o Sindicato dos Metalúrgicos de Betim seria calado e extinto para sempre – e a categoria ficaria sem seu mais importante e efetivo instrumento de luta.
Mas nós, metalúrgicos e metalúrgicas de Betim, não nos calaremos, nem seremos reduzidos a números. Somos cérebros, corações, braços e mãos que operam as máquinas e os projetos da Fiat diariamente, em três turnos, sob sol ou chuva. Somos empregados qualificados, trabalhadores responsáveis, homens e mulheres conscientes. Nossos sonhos e desejos – tanto os pessoais quanto os coletivos – não cabem na tabela de números e metas que a Fiat exibe em sua narrativa forjada.
Basta ver o que houve na campanha salarial. Talvez a Fiat desconfiasse, ingenuamente, que o Sindicato não resistira à reforma trabalhista ou ao governo de políticos ultraliberais e antipovo, como Jair Bolsonaro e Romeu Zema. Talvez a Fiat imaginasse que, desta vez, haveria menos lutas e, com isso, mais chances de impor retrocessos. Só que ocorreu o contrário! Mais uma vez, os trabalhadores confiaram no Sindicato, que construiu uma pauta justa e conduziu a categoria à vitória. É um feito que põe os metalúrgicos de Betim como referência no sindicalismo brasileiro hoje.
Que a Fiat possa crescer em Betim, expandir seus negócios, bater recordes de produção, estimular a economia local, garantir seus lucros e, enfim, festejar. Mas que tudo isso ocorra em favor também dos trabalhadores – e não à nossa custa. Que sejamos parte da festa com salários e direitos cada vez mais dignos, geração de empregos e o devido reconhecimento aos verdadeiros motores dessa gigante automotiva!
* Alex Santos Custodio, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e Região (MG), é membro da direção da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
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