14 de mai. de 2013

Lula diz que maior legado foi governar para todos


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (13),  durante o lançamento do livro 10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil, que sempre teve consciência de que era possível fazer as coisas acontecerem e que havia sido eleito para governar para todos.
Lula disse que entre tantas coisas boas que aconteceram ao longo de seu governo, o grande legado que deixou foi mostrar que “era possível governar de forma republicana sem odiar aqueles que me odiavam”.
Com ironia, Lula falou do que chamou de loucura de algumas pessoas que com apenas três meses diziam que o seu governo tinha acabado. “Eu falava: mas eu nem comecei e o cara já diz que eu acabei. Os apressados escreveram muita coisa contra o governo e o PT e eu sempre tive paciência de que somente o tempo iria se encarregar de colocar as coisas no lugar”.
Lula falou ainda dos ataques e da rejeição que sofreu da elite política e da imprensa brasileira conservadora do país por causa do sucesso de seu governo.
“Se eu fracassasse, eles falariam: ‘coitadinho do operário, chegou lá, mas não tem culpa, não tava preparado, não veio da nossa escola’. Quando começamos a ter sucesso, começaram a fugir da crítica política e ideológica para o ódio de classe, coisa que nunca alimentei. Eu tinha a consciência de que tinha sido eleito para governar para todo mundo”.
Citando as mais de 70 conferências nacionais promovidas em seus dois mandatos, ele lembrou que o Palácio do Planalto deixou de ser apenas um lugar para “reis e rainhas, banqueiros e grandes empresários”, e se tornou também em espaço de “índios, sem-tetos, favelados e moradores de rua”.
Ele assegurou que participará ativamente das eleições de 2014. “Sou cabo eleitoral, estarei nas ruas 24 horas por dia.” Lula encerrou sua intervenção convidando os jovens a participarem da política.
“Depois da política é só a desgraça. O político ideal que você deseja, aquele cara sabido, probo, irretocável do ponto de vista do comportamento ético e moral, aquele político que a imprensa vende que existe, mas que não existe, quem sabe esteja dentro de vocês. Então, nos momentos mais difíceis, ao invés de vocês desistirem, assumam a política para vocês e mudem o que vocês quiserem”.
Nos próximos dias, Lula viajará para a Argentina,  aonde irá se reunir com a presidenta Cristina Kirchiner. Ainda na capital portenha, o ex-presidente brasileiro receberá, de uma única vez, oito títulos de Doutor Honoris Causa. Posteriormente, irá se reunir com intelectuais para discutir a questão da integração da América Latina, que segundo ele, deve “ser levada mais a sério”.
Reflexões
O sociólogo Emir Sader, organizador da obra, disse que as marcas dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff estão nas dimensões das transformações promovidas por eles, a durabilidade dessas ações e o resgate da histórica dívida social.
O livro, lançado pela editora Boitempo, abriga uma coletânea de 21 reflexões de alguns dos mais destacados pensadores brasileiros, como Marilena Chauí, Marco Aurélio Garcia, Marcio Pochmann, Luiz Gonzaga Belluzzo, José Luis Fiori, Luis Pinguelli Rosa e Paulo Vannuchi.
A obra traz reflexões sobre as mudanças vivenciadas no país nos últimos 10 anos e as projeções para o futuro brasileiro. Ainda segundo Sader, o livro é “um instrumento de atualização da prática política e de reflexão necessária para a superação definitiva do neoliberalismo no Brasil”.
O economista e presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, falou da felicidade de olhar para os últimos 10 anos e ver como os governos Lula e Dilma inverteram as prioridades. Ele ressaltou a “coragem e ousadia” de “começar distribuindo”, em vez de “primeiro crescer para depois distribuir”.
Para a professora de Filosofia Marilena Chauí o Brasil vivenciou na última década uma “revolução social”. Ela pontuou entre as mais importantes mudanças da última década os efeitos do Programa Bolsa Família para as mulheres e na “constituição da sociedade brasileira” e o significado do ProUni, do Enem e das cotas em universidades públicas.
'Nova classe média'
Marilena criticou ainda o conceito da “nova classe média” e afirmou que o Brasil possui hoje uma nova classe trabalhadora resultado das políticas econômicas contra o neoliberalismo. “Ela é o resultado da maneira pela qual a política econômica se voltou não só para a questão do emprego e dos direitos econômicos e sociais, mas se voltou também para a necessidade de repor uma nova classe trabalhadora. A classe não mudou de lugar: ela apenas conquistou seus direitos”.
“O fato de termos uma nova relação da classe trabalhadora com o universo do consumo de massa, com os direitos sociais, econômicos, de serviços e culturais, não significa uma nova classe média. E por que eu defendo esse ponto de vista? Não é só por razões teóricas e políticas. É por que eu odeio a classe média. A classe média é um atraso de vida, é a estupidez. Reacionária, conservadora, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. Os trabalhadores brasileiros galgaram e conquistaram direitos. Foram 20 anos de luta, fora os 500 anos anteriores de luta e desespero. E dizer que essas lutas e essas conquistas fizeram a gente virar classe média. De jeito nenhum. A classe média é uma abominação política”.
Fonte: Portal Vermelho.

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