Em entrevista na última
quarta-feira (4), ao jornalista indiano Shobhan Saxena, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva comentou as recentes descobertas sobre espionagens
estadunidenses em diversos países do mundo. Lula afirmou que a primeira medida
que se espera do presidente dos EUA, Barak Obama, é um pedido de desculpas “pela
insensatez americana de achar que pode controlar as comunicações do mundo
inteiro sem levar em conta a soberania de cada país”.
Ele classificou como “muito
graves” a espionagem dos Estados Unidos aos e-mails e telefonemas da presidenta
Dilma Rousseff, mas disse que não opinará sobre o modo que a mandatária
brasileira deve agir em torno da questão.
“Nós, que passamos a vida
inteira lutando por soberania e por democracia, não podemos admitir, a pretexto nenhum, que um
país se dê o luxo de ficar tentando gravar, copiar e-mails e telefonemas de um
país, como fizeram com a Dilma. Acho que a resposta americana não pode ser via
diplomacia porque a espionagem não foi via diplomacia. Espionagem foi
espionagem. Cabe ao Obama humildemente pedir desculpas à presidenta Dilma e
pedir desculpas ao Brasil”, disse.
A entrevista foi gravada na
sede do Instituto Lula, na zona sul de São Paulo, antes da reunião entre Dilma
e Obama, que mantiveram encontro particular em paralelo à reunião do G20, em
São Petersburgo, na Rússia.
“O que acho é que a
soberania dos Estados está sendo colocada em risco com o comportamento
americano”, acrescentou Lula, que lamentou o argumento do governo
norte-americano de que a espionagem é necessária para proteger o mundo.
“Os Estados Unidos não foram
nomeados para serem xerifes do mundo. Ninguém pediu. Se quer saber alguma coisa
da Dilma, que pergunte. Não tem que ficar bisbilhotando. Foi grave. Muito
grave. Os americanos passaram do limite do respeito à soberania dos países.
Sempre haverá no Brasil um vira-lata que acha que o Brasil pode tudo. Sempre
haverá”.
O ex-presidente acredita que
a denúncia expõe ainda a maneira como a Casa Branca enxerga o maior país da
América do Sul. “A verdade é que os americanos não suportam o fato de o Brasil
ter virado um ator global. No fundo, no fundo, o mais que eles aceitam é que o Brasil
continue subalterno como sempre foi. Quando o Brasil cria orgulho próprio, cria
a Unasul, não aceita a Alca, faz a união América do Sul-América Latina, os
americanos acham que estamos incomodando”.
Nesta quinta, o Planalto
cancelou a viagem que diplomatas fariam neste fim de semana aos Estados Unidos
para preparar a missão oficial da presidenta a Washington, o que colocou em
dúvida a visita agendada para outubro.
Para Lula, o episódio serve
também para mostrar a vulnerabilidade do sistema de transmissão de dados do
Brasil.
“É importante que a gente
desafie nossas universidades, nossos cientistas, nossos pesquisadores a
construírem e apresentarem ao governo um programa de comunicação que dê à
presidenta a segurança de passar um e-mail para a filha dela e não tenha
ninguém bisbilhotando, que faça um telefonema entre chefes de Estado e não
tenha ninguém ouvindo esse telefonema”.
Fonte: Portal Vermelho.
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